Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Midiatização, comunicação e algoritmos: uma proposta teórico-metodológica... 275 espécie está restrito ao universo privado ou de campos especia- listas, que se diferenciam e definem regras de acesso. São objetos potenciais. Estão guardados em cofres sociais e psicológicos de diversos níveis, relativamente lacrados. Antes da irrupção (ruptu- ra do lacre) no espaço público, a semiose midiatizada é potencial. Portanto, em qualquer um dos casos (materialidades do espaço privado, dos campos especialistas e imaginários e simbólicas não manifestas) algo pode irromper no espaço pú- blico. Nesse processo, os meios direcionados ao espaço públi- co são centrais para a compreensão dos processos midiáticos, e, como forma de olhar, para a midiatização. A força específica desses meios de publicização (livro, jornal, rádio, televisão, etc.) é acelerar – exponenciar o tempo e o espaço – os processos de circulação das materializações em signo e, portanto, das expe - riências mentais da espécie. Não se trata da semiótica enquanto lógica, mas de lógicas que estão em processos, a partir dos aces- sos, utilizações, usos, práticas e apropriações sociais. Na medida em que a experiência mental é materializa - da em novos meios, novas interações e relações entre produção e recepção são constituídas. Assim, o impresso (do livro e alma- naque ao jornal), o rádio, a televisão e o cinema, etc. constituem novas relações entre produção e recepção, configurando novos públicos. A perspectiva da circulação sugere que essa relação entre sistemas de produção e sistemas de recepção seja decifra- da enquanto relações e não isoladamente. Portanto, a materialização da experiência mental não é direta e automaticamente constituída em termos sociais. É um processo, que ocorre em diversos níveis, se pensada na perspec- tiva da midiatização: nos acessos, usos, práticas e apropriações sociais desses meios materiais; nos circuitos engendrados nes- ses usos e práticas sociais. Os circuitos 5 constituídos entre pro- dutores e consumidores são retroativos, sem que se possa con- siderar domínio dos sistemas de produção sobre o consumo ou vice-versa. Esses processos circulares, retroativos, além de in- formacionais, são semióticos, e transformam os campos sociais (espaço social de especialistas, na cultura, economia e política), os espaços privados e o próprio espaço público. 5 Voltaremos à semântica dos circuitos no desenvolvimento da proposta.

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