Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Midiatização, comunicação e algoritmos: uma proposta teórico-metodológica... 277 linearidade e determinação entre meios e usos. Os usos são um campo de possibilidades e de impossibilidades. A configuração de dispositivos midiáticos está con- dicionada pelos acessos, usos, práticas e apropriações sociais. Nesse sentido, o conceito de dispositivos semio-técnico-sociais se refere aos meios consolidados nas práticas e apropriações sociais. Muitos ficam no meio do caminho, como afirmamos. Outros são incorporados às práticas e apropriações, e, depois, abandonados (o caso dos orelhões, que tiveram seus usos su- cateados com o advento dos celulares). Por que alguns meios se consolidam em termos de práticas sociais e outros não? Essa questão, em nossa percepção, é relativa ao ciclo da inovação. As respostas não se referem às funcionalidades e operações poten- ciais, mas especialmente ao ciclo dos imaginários e realizações. Nesse processo, há um detalhe que é a transição das práticas para as apropriações. Há, aqui também, um dégradé . As apropriações que consideramos de maior intensidade são aquelas que se realizam em sistemas de produção especialis- tas. As redes, por exemplo, vêm sendo apropriadas por vários sistemas especialistas (o que se manifesta na forma de marcas: Facebook, Instagram, etc.). Mas há outras apropriações de me- nor intensidade, intermediária, que usam os sistemas especia- listas e suas marcas para customizar usos específicos a outras marcas (a página no Face a serviço de outra marca, por exem - plo). Numa perspectiva da discussão clássica, são esses sistemas especialistas nominados como marcas que constituem os novos dispositivos, superando (integrando, negando e renovando) os dispositivos hegemônicos no século passado (impresso, rádio, cinema e televisão). O dispositivo, quando nominado, candidata- -se a instituição midiática e passa a ocupar um lugar especial nas relações entre outras instituições, atores e usos dos dispositivos disponíveis, inclusive porque possibilitam a diferenciação dos acessos, usos, práticas e apropriações potenciais, especificando os dispositivos disponíveis. Nesse sentido, consideramos que há um dispositivo quando ocorre uma matriz consolidada, histori- camente, de usos sociais dos meios, configuradora de práticas sociais, que ultrapassa lugares institucionais e de atores, especi- ficamente midiáticos ou não. Isso é, o dispositivo não é o formu - lário disponível: deve ser habitado por atores e instituições para

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