Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Jairo Ferreira 284 A irritação do campo da comunicação, entretanto, vem à tona, enquanto tomada de consciência do longo e essencial processo de alienação, com as configurações sugeridas pelos no - vos meios, que retroagem sobre todos os processos anteriores de apropriação por formatos capitalistas. Assim, a midiatização, umprocesso universal, se particulariza enquanto relações de po- der (econômico, político e cultural) derivadas das apropriações. 2. Método e metodologia No plano da observação, a investigação dos processos midiáticos aqui sugerida não tem como objeto a interação de duas pessoas em clínicas. Esse é o objeto observado em Watzlawick et alii (1972). Nos processos midiáticos, temos sempre a abertura para a investigação de uma multiplicidade de atores, localizados em diversas posições institucionais, utilizando vários meios. Esse foco mais amplo afasta o objeto da análise clínica proposta pela psicologia, sem que isso signifique adesão a uma análise socio - lógica (pois não se trata de reflexão sobre as demografias sociais conforme epistemologias da sociologia positivista). Essa perspectiva se aproxima da etnografia – onde o ob - jeto são comportamentos de coletivos, mesmo quando esses não estão pré-desenhados institucionalmente ou são construídos nas interações e só podem ser “vistos” pela análise ad hoc , relativa- mente às interações do presente. O objeto, portanto, refere-se às interações de atores com um determinado meio (resultante de um sistema de produção a ser também analisado, conforme os al- goritmos, de interações, indexação, programação e conteúdo) e, por essa mediação, entre si (entre os atores localizados em diver- sas posições institucionais). Esta perspectiva está presente, por exemplo, em Ethnographie de l’exposition (VERÓN; LEVASSEUR, 1989), que analisamos em artigo recente (FERREIRA, 2020). O segundo postulado, nessa proposta conceitual-me- todológica, é o paradoxo da comunicação: os indivíduos, na po - sição de atores sociais, não podem não se comunicar; mas, ao se comunicar, enfrentam-se com os desafios do sintoma que se manifestam nas interações. Nossa proposta, aqui, adota essa perspectiva, mas com um deslocamento. Não se trata de analisar

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