Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Alcance e variações do conceito de midiatização 29 Desta forma, o processo de mediatização (cuja história é, natu- ralmente, muito mais complexa e sujeita a variações contingenciais de país a país) corresponderia, gros- so modo , a esta “evolução” de implantações técnicas a serviço de objetivos de sociedade “anteriores” para derivações auto-poiéticas na elaboração de ló- gicas próprias (BRAGA, 2006, p. 16). Conforme Braga (2006), portanto, a midiatização (ou mediatização, como ele usa às vezes), numa abordagem macro, não se resume à presença de novos meios tecnológicos, mas diz respeito à prevalência dos “processos sociais de interação media- tizada, os quais passam a incluir, a abranger os demais, que não desaparecem mas se ajustam” ( ibid. , p. 11). Os processos intera- cionais constituem assim o fulcro de seu olhar e ganham novas características numa sociedade midiatizada: uma processualida- de diferida e difusa; um jogo complexo entre o individual e o so - cial; a tendência à abertura e deslegitimação de padrões esotéri- cos segundo os quais campos especializados se relacionam com a sociedade em geral: “Tudo se expõe, logo tudo se torna aberto ao esquadrinhamento, se torna familiar a todos” ( ibid. , p. 25). Braga (2012) e Fausto Neto (2010) desenvolvem ain- da uma ênfase particular no conceito de circulação para pensar a midiatização da sociedade: nesta, mais do que recepções isoladas, importa analisar o “fluxo adiante” dos produtos circulantes, os processos interativos em cadeia, num deslocamento permanente, numa dinâmica intensa de descontextualização e recontextuali - zação de mensagens – com as implicações semióticas e discursi- vas que esse fluxo acarreta. Já Pedro Gilberto Gomes acompanha sobretudo a pers- pectiva de Sodré, ao dizer que “a midiatização é a reconfiguração de uma ecologia comunicacional (ou um bios midiático)”, e continua: Noutras palavras, a midiatização é a chave herme- nêutica para a compreensão e a interpretação da realidade. A sociedade percebe e se percebe a partir do fenômeno da mídia, agora alargado para além dos dispositivos tecnológicos tradicionais. Por isso,

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