Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Vera V. França 32 dição ele aponta como exemplo as reflexões desenvolvidas por Baudrillard e sua teoria do simulacro e simulações. Em que pese a importância da contribuição dos auto- res brasileiros, ainda não é possível falar de uma perspectiva brasileira ou identificar tendências muito definidas dos estudos aqui desenvolvidos. Assumindo os riscos de simplificação, ine - rentes às tentativas de agrupamento e sistematização, percebo que o uso do conceito de midiatização entre nós se inscreve em três caminhos possíveis: - um macr conceito descritivo. Por vezes fala-se em midiatização apenas para nomear / descrever o fenômeno (a extensão e força da presença das tecnologias comunicacionais), sem que essa nomeação traga uma concepção clara e definida de suas implicações. Trata-se antes de uma constatação, e a ideia de sociedade midiatizada entra mais como premissa do que como chave de leitura. Neste caso, midiatização é um macroconceito para identificar uma das características do mundo contempo- râneo e se alinha a outros macroconceitos, como urbanização, globalização, individualismo. - uma perspectiva crítico-det rminista. Também aqui encontramos um macroconceito, porém com implicações cla- ramente determinadas. Esse mundo midiatizado não é mais o mesmo, e a presença e mediação midiáticas reordenam e im- põem novos modos de vida: a mídia formata pensamentos, sen- sibilidades, modos de relacionamentos. É estruturadora de um novo modo de vida. Este seria o enfoque, por exemplo, trazido pelo concei - to de bios midiático , ou quarto bios , de Muniz Sodré. O campo da mídia teria a ver com um outro eidos (substância) – uma reali- dade simulada, virtual, dotada de uma lógica própria, autorrefe- rente. Nesse quadro, o virtual assume um peso fenomenológico maior do que as representações clássicas do real histórico, ela- boradas e desenvolvidas em função de uma ligação semantica- mente objetiva com o real (SODRÉ, 2002, p. 239). Esta perspectiva também atravessa o pensamento de Pedro Gomes, quando o autor distingue processos midiáticos e realidade social – a realidade social se colocando como matéria- -prima dos processos midiáticos, que estariam construindo uma outra realidade, marcada pelo olhar do produtor, uma realidade

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