Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Vera V. França 38 ra”. Nessa segunda formulação, na leitura de Lopes, “o olhar não se inverte no sentido de ir das mediações aos meios, senão da cultura à comunicação” (2014, p. 71). E Martín-Barbero, citado por Braga (2012), acentua que “[é] preciso assumir não a prio- ridade dos meios, mas sim que o comunicativo está se transfor- mando em protagonista de uma maneira muito forte” (MARTÍN- BARBERO, 2009, p. 152, ap. BRAGA, 2012; grifos removidos pela autora). Martín-Barbero, no entanto, embora enfatizando o protagonismo do comunicacional, não se refere explicitamente ao fenômeno da midiatização. O termo midiatização parece ter sio introduzido na América Latina por Eliseo Verón, no artigo Esquema para el análisis de la mediatización (1997), referindo - -se a esse momento em que a lógica da mídia passa a atingir to- das as práticas sociais. Na Inglaterra, Roger Silverstone (2002, 2005) 7 priori- za o conceito de mediações ao se referir à maneira como pro- cessos comunicacionais mudam o ambiente social e cultural que os suporta, assim como à relação que indivíduos e insti- tuições têm com seu ambiente, e entre si. Nick Couldry (2008) critica o conceito de midiatização, pois este estaria indicando uma lógica da mídia – quando diferentes mídias operam em lógicas distintas. O autor prefere, assim, o conceito de media- ções, que poderia capturar a variedade de dinâmicas dentro dos fluxos de mídia. São sobretudo os pesquisadores escandinavos que reforçam o uso do termo midiatização. Hjarvard (2014, p. 16) aponta os limites do conceito de mediação, que foca no processo comunicativo em si próprio, enquanto midiatização teria um al- cance mais amplo – tratando das transformações estruturais de longo prazo e larga escala. Nessa perspectiva, a mídia se coloca como a grande e definitiva mediação da vida cultural e social. Neste embate conceitual, o risco (no uso de midiatiza- ção) é tender ao midiacentrismo, ao determinismo tecnológico. Se é muito evidente que estudos atuais do cenário comunica- tivo (e da própria contemporaneidade) não podem prescindir da análise da presença e papel das tecnologias comunicacionais 7 Veja-se, a propósito de Silverstone, o interessante artigo de Serelle (2016).

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