Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Vera V. França 40 aquelas ideias, práticas, usos que estão “instituídos”, são aceitos e seguidos por todos, como a família, a linguagem. Mas instituição também nomeia organizações jurídicas, legalmente instituídas em uma sociedade, como a universidade, as forças armadas. Práticas comunicativas diretas e mediadas são instituí- das em todas as sociedades; a nossa desenvolveu e tem consoli- dado formas particulares. O uso do telefone e agora doWhatsApp, por exemplo, são práticas instituídas. Além disso, no entanto, a mídia ou as diferentes mídias também ocupam um lugar próprio, obedecem a políticas de organização, seguem um desempenho profissional, obedecem a uma divisão de papéis e funções, são re - gidas por legislações específicas. E mais: se a mídia se constituiu como um campo próprio, uma instituição, é fundamental perceber como ela intervéme inclu- sive provoca modificações em outros campos, outras instituições. - Aten ção às lógicas específicas. A mídia, na verdade, com- preende várias mídias – vários dispositivos, com funcionamento e lógicas próprias. Hjarvard, recuperando o conceito de affordan- ce (usos potenciais de um objeto) apresentado por James Gibson, acentua: “As diferentes formas de intervenção dos meios de comu- nicação sobre a interação social dependem das características con- cretas do meio em questão, quais sejam, seus atributos materiais e técnicos, bemcomo suas qualidades sociais e estéticas” (HJARVARD, 2014, p. 52). Assim, não é suficiente, em nossos estudos, falar da mídia em geral; uma análise criteriosa deve estar atenta às parti- cularidades do funcionamento e ordenamento de cada uma delas. - Análise das configurações, processos de construção, cruzamentos midiáticos. Alguns estudos comunicativos são mais pontuais e focam em situações e ocorrências particulares. No en- tanto, nenhum ato comunicativo é isolado; eles são sequência de atos, momentos de um processo, encadeamentos. Então mesmo os estudos específicos, cientes da necessidade, mas também da arbitrariedade dos recortes empreendidos no corpus empírico de toda pesquisa, devem atentar para a inter-relação entre os dife- rentes elementos que compõem um dado processo comunicativo, para a natureza de construção de que se revestem, para os en- trelaçamentos que o configuram – entrelaçamento entre diferen - tes práticas midiáticas, entre os diferentes processos interativos, tanto aqueles mediados pelas novas tecnologias digitais como

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