Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Midiatização e jornalismo 49 formalismo lógico da disputatio escolástica) e, já em meados do século XVII, podia servir como equivalente da palavra “público”, isto é, o diálogo que contempla assuntos de interesse geral e não meramente privados. 3 A conversa , a que John Dewey se refere como meio de educação e debate público, é a forma comunicativa nas agremia- ções de sábios ou academias para incrementar a circulação dos studia humanitatis , em que primavam a eloquência, a poesia, a história e a erudição. Embora tendo o seu centro nervoso em Paris, celebrada como “capital do Espírito”, as sociedades de con- versa desenvolveram-se em círculos dispersos na Europa, graças a uma forma humanista da dialética – a “conversa civil”, insepa- rável de uma filosofia dos costumes – destinada a interlocutores que não eram doutores nem doutos. De fato, desde o começo do século XIX, a atividade jor- nalística se associava à racionalidade discursiva que, no século anterior, caracterizava a esfera pública, materializada em cafés, clubes e revistas. E tudo isso podia ser descrito pelo termo gené- rico de “literatura”, uma vez que esta designação ainda não tinha se fixado definitivamente como uma “expressão de subjetivida - de” concretizada em romance ou poesia. A imprensa de que fala o escocês Thomas Carlyle (expoente da historiografia romântica na Inglaterra oitocentista) é o espaço onde se movimenta o “ho- mem de letras”, entendido como escritor profissional, mas tam - bém como um indivíduo investido de uma autoridade ideológica análoga à do sábio. Nesta perspectiva, a imprensa teria substi- tuído tanto o púlpito quanto o Senado. 4 Karl Marx, que muito atuou como jornalista, por ale - gados problemas econômicos – tanto para a imprensa alemã ( Gazeta Renana , Nova Gazeta Renana ) como a inglesa, e a nor- te-americana ( New York Tribune ) –, expressou algumas vezes o seu julgamento do jornalismo ora como prática inessencial, ora como algo cansativo que o desviava de seu verdadeiro trabalho. Marx questiona o discurso da informação quando entregue ape - nas à sua própria lógica (o que enseja comparações com a mídia 3 Cf. FUMAROLI, Marc. La Repúblique des Lettres . Paris: Gallimard, 2015. p. 120. 4 Cf. SODRÉ, Muniz. A narração do fato – notas para uma teoria do acontecimento. Petrópolis: Ed. Vozes, 2012.

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