Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Midiatização e jornalismo 51 aos três poderes de Estado e ao funcionamento da economia. A realidade da democracia representativa é alimentada pelo jogo das diferenças entre posições de classe ou de alianças políticas frente a poderes constitucionais. O totalitarismo emerge quando essa realidade é substituída por um simples formalismo jurídico (três poderes e Constituição burocraticamente articulados sem mediação política), apagando-se a pluralidade representativa em favor de um efetivo poder anticonstitucional, cujas modali- dades variam da ditadura pessoal, militar, classista, teocrática até a partidário-burocrática (Rússia e China, por exemplo). A transitividade política da informação jornalística tem sido ca- racterística exclusiva da democracia representativa. Mas essa democracia liberal, parlamentar, delegada – historicamente afirmada desde fins do século XIX – comporta alternativas teóricas, esparsamente sugeridas por autores com tendências reformistas ou revolucionárias. Gramsci, por exem - plo, que sempre manifestou desconfiança teórica para com a for - ma da democracia parlamentar, aventa a hipótese de uma “de- mocracia conselhista” (ou soviética) como superior, criticando o consenso formalista-procedimental quanto ao voto como mo- mento final da disputa eleitoral pela representação e incitando à busca de uma relação diferente entre governantes e governados. Embora nenhuma alternativa tenha vingado em termos real- -históricos, era perfeitamente racional a avaliação do pensador italiano no sentido de que a forma parlamentar não conseguia espelhar a “soberania popular”, uma vez que a opinião pública seria artificialmente orientada pelos “persuasores ocultos” da - quela época, isto é, por rádio e imprensa, no processo de renova- ção orgânica do bloco dirigente. Noutros contextos, em meio à inércia histórica do cor - po social, a inanidade política da representação pode coexistir com sua pura forma jurídica no âmbito de um poder anticons- titucional conduzido por organizações corporativas de controle estrito ou ampliado da informação. Assim é que, hoje afinada com a ordem jurídico-social e exclusivamente orientada para o mercado, a organização (corporação, empresa, indústria) sobre- põe-se à lógica institucional da imprensa clássica. Esta sempre foi politicamente legitimada pela preservação dos direitos civis, da liberdade e da democracia e semioticamente lastreada por

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz