Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Análise geracional e mudança social midiatizada 77 as gerações midiáticas é, também, estudar o processo de mi- diatização. Os dois são dois processos que se desenvolvem ao longo do tempo. O processo geracional, então, significa que se pode esperar que a identidade geracional seja mais forte quanto mais velha a pessoa for, uma vez que percorrer um longo cami- nho pelo cenário social e midiático significa que a história de vida de uma pessoa foi ensaiada por ela, inclusive o componente que une as pessoas numa autoconsciência geracional. Para cap- tar tais processos empiricamente, pode-se, como fizemos neste projeto, conduzir entrevistas com grupos focais e iniciá-las com a questão indutora “Qual mídia você possuía em casa quando criança? Você pode nos contar sobre suas primeiras memórias de mídia?” Ao induzir as pessoas a se lembrarem de suas pri- meiras memórias, a situação do grupo focal leva os participantes a se reunirem em torno de experiências comuns, e isto, por sua vez, enfatiza as coisas que os reúnem em memórias comparti- lhadas de tecnologias e conteúdos midiáticos do passado. Ela produz um “senso de nós”, mesmo que apenas pelo momento e duração da entrevista. Este “senso de nós” é característico da conceitualização mannheimiana de gerações como situadas na mesma localiza- ção do processo histórico, como pode ser visto, abaixo, no frag - mento de uma entrevista com respondentes estonianos. Entrevis ador: Quer dizer, que ipo de filmes eles mais exibiam naquela época? Aire: Filmes indianos. Marika: Sim, filmes indianos. Ruth: Comédias francesas. Aire: Sim. Louis de Funes. Tomas: Louis de Funes, sim. Marika: Oktober ou Pioneer, aquele na rua Viru em que eles exibiam um filme o dia inteiro e se podia entrar quando se quisesse. Tomas: Sim, sim. (Grupo focal, nascidos entre 1959-1966).

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