Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

A dimensão industrial da midiatização: investigação do ponto de vista das indústrias culturais 89 Contribution of the Live Music to the UK Economy , 2017). Por si só, o negócio dos festivais está crescendo e, como não lidamos com a reprodutibilidade técnica (a cada vez os artistas tocam ao vivo), ele não pode ser totalmente considerado como parte das indústrias culturais. Mas a massificação dos festivais, por si só, padroniza a performance, seu formato, e está afetando a par- te criativa da produção teatral. Além disso, podemos observar uma colaboração intersetorial mais intensa, com o objetivo de reduzir custos de produção e compartilhar o mesmo local para diferentes tipos de eventos. Nos últimos 10 anos, após a proliferação da transmis- são de dados em alta velocidade e do vídeo em alta definição, podemos ver outra tendência empurrando a produção teatral na direção da indústria. É a transmissão direta das apresentações teatrais nas salas de cinema que traz completamente o teatro para dentro da reprodutibilidade técnica e da indústria da mí- dia. Em 2015, 19% da população do Reino Unido assistiu a con - teúdo artístico ao vivo com transmissão digital no cinema e 7% em casa (NAYLOR et al ., 2016). Inopinadamente, isto contribui muito mais para a indústria cinematográfica do que para a in - dústria do teatro em termos de faturamento, mas podemos tecer a hipótese de que isso transforma o processo criativo dentro da produção teatral e, especialmente, sua parte criativa. Como os espetáculos devem ser atraentes para as massas no exterior, e não apenas no nível local, sua escolha é muito movida pela lógica comercial. Os espetáculos e os atores devem ser reconhecidos pelo público em geral, o que poderia afetar a escolha dos atores (eles são muito mais orientados para a indústria cinematográfi - ca do que para o teatro em si). Outro campo dentro das artes performativas que está empurrando enormemente todo o setor para a direção da indus- trialização é o surgimento dos musicais internacionais. No Reino Unido, por exemplo, apenas cerca de 15% dos espetáculos tea - trais são musicais, mas eles representam cerca de 30% do total de apresentações teatrais (NAYLOR et al ., 2016). Consideramos os musicais como espetáculos teatrais semirreprodutíveis, nos quais a peça artística individual (que ainda continua sendo par- te do universo não reprodutível do teatro clássico) convive com um modo de produção muito padronizado e comercializado, ba-

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