Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Ilya Kiriya 92 lacionamento entre aluno e professor, que antes se baseava na comunicação interpessoal (não midiatizada, no caso de aulas expositivas e seminários tradicionais, ou interação interpessoal midiatizada, no caso do formato de livro-texto ou videoconfe - rência) em comunicação de massa orientada para um público virtual não definido por meio da plataforma midiática. Isso faz com que o relacionamento fundamental sempre baseado no desempenho individual do professor (da mesma forma que no teatro e em outras artes performativas) seja reprodutível em um meio específico e acessível a milhões de pessoas. Isso faz da educação on-line um produto midiático que funciona de acordo com a lógica das indústrias de mídia digital. O primeiro efeito disso é a “aprendificação” da educa- ção (VAN DIJK; POELL, 2015), resultando na divisão da educação em relativamente poucas partes vendidas separadamente que poderiam ser combinadas para formar currículos inteiros. Na educação clássica, seus resultados representam um objeto holís- tico e não a soma dos elementos isolados. Já na lógica comercial, o consumidor deve ter uma escolha entre diferentes elementos. Outro efeito da midiatização da educação por meio de platafor- mas digitais é a “uberização” da educação e a implementação da avaliação e classificação mútuas entre clientes e prestadores de serviço, o que contribui para a implementação das práticas neo- gerenciais na academia (KPI – indicadores-chave de desempe- nho de professores e unidades acadêmicas, salários dependen- tes da posição em rankings, etc.). Juntamente com a bibliometria digital e o sistema de big data de avaliação do desempenho aca- dêmico, isto simplifica excessivamente a representação da qua - lidade do trabalho do professor na academia. Outro efeito que torna a educação on-line semelhante às indústrias culturais é a nova divisão do trabalho. O professor continua sendo a figura-chave do novo setor de educação on-li- ne , mas sua criatividade precisa ser mecanicamente reprodu- zida e disponibilizada ao público. Essa reprodução mecânica é garantida tanto pela universidade (geralmente disponibilizando instalações para a realização do curso on-line ) quanto pela pla- taforma que garante a distribuição. Em outras palavras, a cria- ção do curso on-line é semelhante a qualquer setor da indústria cultural em que a parte criativa do trabalho é separada de sua

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