Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

A mentalidade métrica: a vida social em cenários midiáticos datificados 115 uma espécie de orientação no cenário da superabundância textual nas redes sociais, o segundo mostra a dimensão social de se adequar ao coletivo social maior para confirmar a comunalidade com outros colegas usuários das redes sociais. Este é um ato voltado para o exterior, sendo que a primeira citação representa uma abordagem intrínseca, voltada para o valor. De certa forma, a segunda citação também expressa uma abordagem que pode funcionar de forma supressiva, uma ansiedade por estar sozinho com o próprio juízo de valor que pode ser vista como semelhante à “espiral do silêncio”, na qual a suspeita de estar só ao curtir uma postagem impede o usuário de revelar seu ponto de vista e ele ou ela simplesmente se abs- tém de dar voz a qualquer opinião (NOELLE-NEUMANN, 1974). Desse modo, isso também ilustra a natureza social das redes so- ciais. Esta natureza social também foi notada por um de nossos informantes: “Eu achei estranho, e, como eu disse antes, quase fiquei irritado. Ou frustrado talvez. [...] Eu acho que as redes sociais sem estas interações removem uma grande porção do ‘social’, ou por assim dizer. Também é interessante como isso está en- raizado nas pessoas, quão importante essa parte é. Eu realmente não sabia disso.” Este tipo de reflexão não é muito comum enquanto os usuários das redes sociais navegam na internet em suas vidas cotidianas. Isto precisa ser provocado ou acionado, por exem- plo, numa situação experimental como a que preparamos para os nossos informantes. Através desta manipulação, os usuários se conscientizam do papel que as métricas desempenham so- bre como eles abordam as plataformas de redes sociais e como agem nelas. É somente através da disrupção do fluxo do dia a dia que se podem levar as pessoas a pensar sobre tal compor- tamento rotineiro. De modo semelhante a como Andrea Mubi Brighenti vê as métricas como “um componente atmosférico da sociedade”, nós não refletimos sobre nossas relações com elas, assim como não pensamos sobre “o ar que respiramos” com tanta frequência. Na “vida midiática” moderna (DEUZE, 2012), as

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