Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

José Luiz Aidar Prado 152 mações, que exigem novos modelos e conceitos, entre os quais o de circulação. Trata-se de compreender a historicidade das midiatizações como transformações concomitantes de lingua- gens, tecnologias e das práticas de midiatização. Para Carlón, o mais importante a considerar na atualidade é que houve uma forte mudança no papel dos meios na vida social, e isso está bem apontado na obra de Verón. Nesse sentido, é basilar para Carlón a distinção entre sociedades modernas, ditas midiáticas, e pós- -modernas, ditas midiatizadas ou em vias de midiatização. Se na modernidade dominava um ambiente midiático, com o sistema de meios massivos, na pós-modernidade tínhamos a sociedade em vias de midiatização e hoje temos a sociedade hipermidiati- zada, em que se transformou a paisagem midiática a partir da convivência dos meios tradicionais com o sistema baseado na internet. Com isso, alteram-se completamente as condições de circulação. Não há somente descontinuidade entre uma e outra fase, pois algumas características da fase anterior ainda perdu- ram na seguinte. Carlón dá o exemplo da videopolítica, que se expandiu nos últimos anos. “Hoje não somente instituições e celebrities atuam performativamente em função da midiatização. Fazer selfies com o objetivo de vê-las publicadas imediatamente nas redes sociais como Facebook ou Instagram se tornou uma prática cotidiana para milhares de milhões de novos enunciadores nas redes sociais” (CARLÓN, 2020, p. 10). Houve grandes mudanças com a emergência dessas redes, como o surgimento de novos enunciadores e a mudança na direção da circulação dos sentidos. A consequência é que o sistema de meios massi- vos ainda permanece, mas não é tão dominante e não mais lança as enunciações unidirecionalmente como no passado, fazendo parte hoje de uma movimentação mais ampla e tendo de intera- gir com as redes sociais, produzindo comunicações em todas as direções. Carlón ressalta isso dizendo que a circulação se tornou hipermidiática: “os conteúdos viajam desde as redes sociais aos meios massivos e desde os meios massivos até as redes sociais” (ibid., p. 11). Para Carlón, os meios massivos eram descendentes, ou seja, instalavam processos comunicacionais desde o cume das instituições até o porão dos públicos. Na sociedade hiper- midiatizada isso não mais ocorre, pois há diversas direções da comunicação. É essa circulação multidirecional que interessa a

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