Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Circulação e midiatização capitalizadora nas sociedades hipermidiatizadas 159 o objeto metonímico6 ao consumidor que busca a satisfação/ gozo. O que nos interessa é ligar circulação/produção de valor signo/sentido, com geração de mais-valor econômico, a partir da convocação da atenção e das interações daí emergentes, mul- tidirecionais, bem como circuitos pulsionais, ligados ao gozo polissensorial, envolvendo as dimensões escópica, olfativa, tátil e auditiva, sem considerar um sentido de cada vez, buscando entender como os campos sensíveis contribuem para a eficácia semiótica, chegando aos corpos sensíveis7. Essa circulação pulsional busca uma plenitude imagi- nária de gozo, que não se realiza, produzindo um resto, um saldo de insatisfação: “a pulsão está sempre contornando um objeto inalcançável, configurado como um resto de gozo a recuperar [...]; é a instância simbólica que barra o gozo, e, assim, permite a emergência do sujeito do desejo, mantendo a coerência imaginária do eu. Ou seja, para desejar, é preciso aceitar uma perda de gozo” (FONTENELLE, 2020, p. 302). Essa insatisfação estru- tural é que impulsiona o circuito das demandas e da busca de mais-valo H r. á uma parte importante nesse processo de aciona- mento da rede de desejos a partir dos agenciamentos tecnológicos, que pode ser compreendida “como uma forma de convoca- ção ao gozo que a cultura do consumo contemporânea vem pro- movendo” (ibid., p. 301). As interpelações do enunciador-convocador ligam-se a discursos mais amplos da marca e a discursos que circulam pela cultura, apelando a um imaginário que toca o sensível do corpo. Fontenelle (2020, p. 303) fala de uma imbricação entre as formas de consumo através dos fluxos de dados e paixões que circulam entre os mundos virtual e real comandada pelos interesses de um capitalismo tecnológico que, por sua vez, conta com “altos ní- veis de envolvimento apaixonado do consumidor” (Kozinets et al., 2017, p. 678). Os autores mapea- 6 É Lacan (1999, p. 20) quem fala do objeto metonímico, que é sempre parcela e nunca o objeto todo da satisfação. O consumidor desliza de objeto em objeto, que é sempre parcial e se coloca como metonímico em relação ao objeto do de- sejo, que é sempre impossível. 7 Sobre a semiótica do corpo, ver FONTANILLE, 2017.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz