Circulação de rostos: da fórmula mágica à resistência 179 bém foram inscritas em espaços de atores sociais midiatizados como Twitter, Facebook e Instagram, incluindo redes de institui- ções como ONU e UNICEF. Destaca-se também que as imagens, diferentemente da foto de McCurry, não possuem uma qualidade técnica destacada; ao contrário, preservam a característica do momento, e é a sua não plasticidade programada que as valoriza em circuitos. Observa-se que todas as imagens são postas em circulação por dois movimentos: o jornalístico e a fagia social5. Porém, destaca-se que o seu tempo de permanência em circula- ção é determinado pela duração dos debates sobre as pautas a que se reportam, quase todos conflitos sociais derivados de atra- vessamentos políticos. Nota-se ainda que estas imagens já são produzidas para a circulação, levando em conta características de imagens precedentes, incluindo a da menina afegã. Por fim, o caso desse artigo contém mais um observá- vel: imagens de rostos de crianças em conflito nas favelas cariocas. Como nosso eixo está ancorado em dois aspectos: o rosto e as imagens de conflito, nos deparamos com fotografias que di- zem respeito aos assassinatos de crianças no Brasil. Entre 2018 e 2021 já somam algumas dezenas de crianças mortas, muitas das quais nem tiveram repercussão. Dentre elas destacamos João Pedro, de 14 anos, morto em plena quarentena, em casa, em meio a uma operação policial. As imagens de João se limitam a uma única fotografia de arquivo familiar. O mesmo se pode indi- car de Agatha Felix, de 8 anos, Marcus Vinicius, de 14 anos, Kauê Ribeiro, de 12 anos, e Kauan Peixoto, de 12 anos. Seus rostos são acoplados como imagem-referência (a quem reportar), mas sem pregnância para circular. 5 A ideia de fagia social foi apresentada por Rosa (2016) como um dos movimen- tos de circulação intermidiática e que se traduz pelo consumo exacerbado de determinadas imagens por parte de atores sociais e instituições jornalísticas.
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