Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Circulação de rostos: da fórmula mágica à resistência 183 convoca a pensar: quem será o próximo? O rosto infantil é a esperança em meios às cinzas e aos escombros. O rosto do mora- dor da favela brasileira é o rosto que antecipa o julgamento da sua existência. As crianças sírias, hondurenhas ou turcas ilustram acontecimentos, as crianças da favela carioca iluminam um continuum D . iante disso emerge o contra-agenciamento, que é um fazer de sujeitos não reconhecidos, imersos na dor de sua invisi- bilidade que contra-agenciam o fluxo comunicacional. Diferen- temente ou complementarmente à ideia de dispositivo analítico de Carlón (2017), não se trata só de movimentos ascendentes e descendentes, mas essencialmente da desconexão com os meios hegemônicos. Os atores sociais como Bruna da Silva, mãe de Marcus Vinicius, juntamente com outras mães de vítimas, têm criado um movimento em rede de militância contra o poder de fazer esquecer. Para isso, são desenvolvidos materiais comunicacio- nais, campanhas, protestos, caminhadas que recorrem à lógi- ca da midiatização para manter a memória e a imagem destas crianças vivas. Em entrevista à Época (2020), Bruna destaca que os “mortos têm voz”. Suas ações de contra-agenciamento inicia- ramao perceber a circulação de fake news sobre Marcus Vinicius. A dupla morte, pela polícia e pela não circulação da imagem, fez comque ações comunicacionais tentativas fossempensadas para a circulação. É a performance dos atores sociais que não buscam ascender aos meios simplesmente, nem partem dos meios para suas comunidades, ao contrário, criam ações outras, alternativas e experimentais que não pretendem os meios hegemônicos, mas que são por si próprias formas de contra-agenciar a circulação e de fazer possíveis condições de visibilidade, mesmo quando tais condições não estão dadas. Isto inclui desenvolver experimenta- ções e articulações que inclusive impactem o Estado. Uma das ações de contra-agenciamento é a proposição de um projeto de lei com o nome de Marcus Vinicius que cria moralidade, em especial, que emerge das imagens na mídia como os bombardeios. Esta aproximação com o autor vem sendo realizada de modo gradual, mas percebe-se amplo diálogo entre as perspectivas aqui apresentadas e as ela- boradas pelo autor envolvendo a política da pena e de um sofrimento que nos contata, mas não move.

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