Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Semiose midiatizada e poder: interfaces para pensar os meios algorítmicos e plataformas 217 público, por ações de indivíduos ou atores localizados no espaço privado ou no espaço dos campos de especialistas, é objeto da investigação empírica da midiatização na perspectiva aqui pro- posta. Esta fronteira entre espaço público, privado e de especialistas é móvel (como se observa, hoje, com os acessos públicos ao que é privado – publicização de mensagens no WhatsApp – ou aos campos especialistas – publicação de documentos “secretos” do Estado, via novos meios digitais). É importante, mes- mo na conjuntura atual, considerar que um imenso universo de signos materiais construídos pela espécie está restrito ao universo privado ou de campos especialistas, que se diferenciam e definem regras de acesso. São objetos públicos potenciais. Estão guardados em cofres sociais e psicológicos de diversos níveis, relativamente lacrados. Antes da irrupção (ruptura do lacre) no espaço público, a semiose midiatizada potencial é sempre maior do que a realizada. Portanto, em qualquer um dos casos (materialidades do espaço privado, dos campos especialistas e imaginários e simbólicas não manifestas) algo pode irromper no espaço público. Nesse processo, os meios direcionados ao espaço público são centrais para a compreensão dos processos midiáticos e, como forma de olhar, para a midiatização. A força específica desses meios de publicização (livro, jornal, rádio, televisão, etc.) é ace- lerar – exponenciar o tempo e o espaço – os processos de cir- culação dos signos materializados e, portanto, das experiências mentais da espécie. Não se trata da semiótica apenas enquan- to lógica (os códigos algorítmicos), mas de analogias que estão em processos, a partir dos acessos, utilizações, usos, práticas e apropriações sociais. Na medida em que a experiência mental é materializa- da em novos meios, novas interações e relações entre produção e recepção são constituídas. Assim, o impresso (do livro e alma- naque ao jornal), o rádio, a televisão e o cinema, etc. constituem novas relações entre produção e recepção, configurando novos públicos. A perspectiva da circulação sugere que essa relação entre sistemas de produção e sistemas de recepção seja decifra- da enquanto relações comutativas (o receptor no lugar de produção; a produção no lugar de recepção) e não isoladas entre si.

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