Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Semiose midiatizada e poder: interfaces para pensar os meios algorítmicos e plataformas 219 mano. Aqui, a lógica de Peirce se assemelha à potência da dialética, que é utilizada para pensar a natureza mineral, animal e da espécie (como fez György Lukács, por exemplo, em sua obra Para uma ontologia do ser social). Assim, as conhecidas máximas da dialética foram ‘aplicadas’ para compreendermos as mudan- ças e transformações da natureza, da ‘transformação do macaco em homem’ até as transformações da economia, da cultura e da política. A reflexão lógica geral, entretanto, nunca substitui a ne- cessidade de uma singularidade de reflexão sobre o fenômeno que está sendo observado. Do contrário, a ciência seria reduzida a uma lógica geral e formal. O mesmo, pensamos, vale para a ló- gica semiótica de Peirce. Retornando à questão: como pensar as relações entre poder e semiose? Uma solução, que é considerada na literatura, situa a questão do poder como derivada das crenças sociais, es- pecialmente aquelas constituídas a partir do argumento de autoridade. Essa perspectiva tem sido utilizada inclusive para pen- sar as relações entre (crenças de) dominados e dominantes. É, sem dúvida, uma boa reflexão para inserir a semiose na questão do poder, inclusive porque dá destaque à experiência mental da espécie para se pensar a semiose entrelaçada com o social. Mas mesmo esta perspectiva não localiza as relações psicológicas e sociais que não só contextualizam, mas também acionam e dis- tribuem as crenças em classificações socioantropológicas. Isso é, para muitos, as condições psico-antropo-sociológicas que fundamentam essas crenças de autoridade são apenas mediações, sem analisar como tais condições são constituintes e instituintes do signo. Ou não colocam a pergunta: se é verdade que há uma crença que se estabelece a partir da ‘autoridade’, quem autoriza a autoridade? As respostas em geral situam a autoridade como fenômeno externo ao signo. Aqui, propõe-se que o signo social é autoridade. 3.1 Matrizes abissais e autoridade Portanto, nosso argumento é diferente. Começamos com as matrizes de Peirce. Estas estão vulgarizadas como ícone, índice e símbolo, em correspondência com os conceitos de primeiridade, secundidade e terceiridade. Muitos reduzem a isso

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