Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Jairo Ferreira 224 especificação só pode vir do campo da psicanálise. Consequentemente, a fenomenologia e a semiótica só podem fornecer o substrato lógico, sem poder indicar quais são as características específicas que a primeiridade, secundidade e terceiridade adqui- rem na psicanálise (SANTAELLA, 1999, p. 5). Concordando, surge aqui uma questão inversa. Ora, se a lógica é o substrato lógico que o pesquisador mobiliza para entender o fenômeno psíquico, conforme caracterizado por Lacan, deve-se perguntar em que medida Lacan utiliza as cadeias de matrizes, abissais, para pensar as suas tríades. Não temos conhecimento de que algo assim tenha sido feito por Lacan. Ou seja, as matrizes (apresentadas, em detalhes, por Walter-Bensen [2000]), não aparecem nos dispositivos explicativos de Lacan. Entretanto, em Lacan (2005), há uma forma diagramática que deve ser estudada para inferir essa relação com mais precisão, incluindo a forma do diagrama, que, emLacan, não é emumama- triz de linhas e colunas, mas de linhas em cordas, que se cruzam. Feitas essas ponderações, podemos acentuar o que queremos reter: em Lacan, o signo psíquico não é puro. Está atravessado pelo poder. Portanto, analisar a semiose sem considerar relações de poder implicadas só pode ser um ato de abs- tração do objeto em estudo. Je dis qu’il faut supposer tétradique ce qui fait le lien borroméen – que la perversion ne veut dire que version pour le père –, que, en somme, le père est un symptôme (LACAN, 2005, p. 20).4 Ou seja, para Lacan, a semiose psíquica é atravessada pelo sintoma que a mediatiza, ou seja, não há imaginário, real e simbólico sem o atravessamento da versão do pai (que chama- mos, aqui, de poder). 4 Perversion est homophone de père-version (padre-version), y vers signifie « hacia ».

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz