Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Semiose midiatizada e poder: interfaces para pensar os meios algorítmicos e plataformas 227 Este fragmento – que nos lembra bem passagens da obra de Goffman (2011) – tem uma importância central na obra de Bourdieu, não suficientemente problematizada, que localiza a sua crítica a Saussure, não somente direcionada à compreensão da fala como ‘aplicação’ dos sistemas linguísticos e à co- municação (voltaremos a este segundo aspecto), mas também à compreensão do signo não apenas como a linguística o compreendeu. Afinal, a hexis remete às relações entre o que chamou de habitus linguísticos e hexis corporal (BOURDIEU, 1996, p. 69). Essa manifestação do habitus em disposições o aproxima de Peirce, na medida em que saber un idioma, por ejemplo, es una disposición, es decir, una potencialidad permanente, que se ac- tualiza de tanto en tanto, en ocasiones precisas, y que hasta puede nunca actualizarse; no es por ello menos real, porque, según Peirce, los universales (leyes, hábitos, significaciones) son reales, en el sentido de que operan realmente en la naturaleza. Sabemos que Peirce concebía también las creen- cias como hábitos de acción, es decir, como disposiciones para actuar de tal o cual manera en tal o cual circunstancia (Chauviré, 2002, p. 28, apud QUERÉ, 2017, p. 2). Por outro lado, Bourdieu tem, com Piaget, a compreen- são do habitus como cognição, ou seja, formas de intuição, per- cepção, esquemas e sistemas de pensamento, não necessariamente conscientes. Estes esquemas e estruturas, conscientes e inconscientes, em Bourdieu, são, ao mesmo tempo, classifica- ções do social, socialmente construídos. São as estruturas estruturadas e estruturas estruturantes, subjetivas, investigadas durante décadas por Bourdieu, relacionáveis às condições ob- jetivas (campos objetivamente observáveis) – econômicas, culturais e políticas de agentes e instituições. Ao relacionar essas condições (campos) e o habitus, Bourdieu atualiza, a um só tem- po, a herança marxista e a weberiana. Com isso, Bourdieu rompia com a fenomenologia existencialista, especialmente Sartre, e, ao mesmo tempo, ao desenvolver a perspectiva genética, com o estruturalismo de Lévi-Strauss, Althusser e Saussure, buscan-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz