Jairo Ferreira 228 do evidências de que o cotidiano não é um espaço de infinitos graus de liberdade, mas também não é uma simples execução de estruturas sociais. Sua formulação sugere o habitus como inventivo, criativo, improvisador, mesmo nos contextos dos campos sociais e suas coações, por sucessivos processos de adaptação (e não só assimilação e acomodação a essas). Essa diferenciação epistemológica será também em relação ao interacionismo “puro”, que desconsidera os esquemas, estruturas e sistemas sociais que condicionam e induzem à reprodução das relações sociais (BOURDIEU, 2004, p. 157). *** A segunda justificativa para a inserção de Bourdieu nas interfaces está relacionada à questão do poder, conforme a abor- dagem da teoria social. A principal proposição de Bourdieu, na perspectiva em construção, é a compreensão do simbólico como espaço de lutas classificatórias do social, permitindo uma inte- ligibilidade dos fenômenos sociais marcados pelo conflito. Essa proposição acompanha seus estudos. Em diálogo que sugerimos com as perspectivas anteriores (Peirce e Lacan), há uma diver- sidade de crenças, conforme os habitus sociais, situados em relação com os campos, onde se diferenciam os capitais culturais, econômicos e políticos dos indivíduos (agentes, na conceituação bourdieuana). Essa diversidade se situa enquanto sistemas de produção e sistemas de recepção dos objetos culturais, num fei- xe de relações observável, passível de ser inferido por sucessivas analogias e homologias (BOURDIEU, 1979). A proposição de que o simbólico é estrutura estrutura- da, estrutura estruturante, classificatória do social e de poder é central na teoria de Bourdieu (1989). Assim, se há uma crença que se referencia na autoridade, esta tem que ser compreendida como poder sociossimbólico, signo que incorpora lógicas de po- der e, na circulação, pode ser ou não “autorizado” em campos sociais diversos, com autoridade estruturante, classificatória das percepções, intuições e inteligibilidades sociais, incidindo sobre os que participam desses espaços compartilhados, gestando-se, nas relações, posições de dominados e dominantes. Encontra-se,
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