Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Semiose midiatizada e poder: interfaces para pensar os meios algorítmicos e plataformas 229 aqui, uma outra face do signo que nos permite falar em signo psico-sócio-antropológico. Assim, o habitus (conceito que nos permite a inteligibi- lidade da cultura, classificações e relações de poder entre agentes que compartilham espaços sociais, mediações centrais na produção e consumo de objetos materiais, abrangendo da hexis corporal à linguagem – a falada e a escrita) pode ser entendido, ao mesmo tempo, como lógica (estrutura estruturada e estrutu- ra estruturante) e como perversão incorporada. Nesse sentido, é símbolo e, ao mesmo tempo, crença em e de autoridade, mas não se confunde com essa forma de crença, na medida em que é passível de desconstrução social (pela construção social do co- nhecimento, através de vários métodos – como a psicanálise, a socioanálise, semioanálise, etc.), e também, como veremos, nos processos abdutivos da cultura, em suas interações. Isso nos permite compreender o simbólico sem congelá-lo enquanto indissociável de relações de poder, e a semiose enquanto processo de reprodução do social, ou seja, das rela- ções de poder, e, ao mesmo tempo, entender suas relações com o poder, o que permite a compreensão dos conflitos simbólicos, numa historicidade, passível de análise genética. Por outro lado, ao compreendermos a semiose social como o processo de inter-relações entre imaginário, real e sim- bólico, inclusive a questão do poder, se integra a problemática de Bourdieu para além de uma abordagem que é restrita ao simbólico. Inversamente, permite compreender as classificações e disputas também em torno dos imaginários e realidades sociais construídos. Acentua-se, aqui, a importância da problematização do imaginário e do real, e a compreensão do poder não apenas como um processo derivado da lógica, dos esquemas e estruturas correlatos, mesmo quando pensados como construções socia P i a s r . a isso, primeiramente, é necessária a perspectiva de Peirce, para superar uma concepção de semiose agenciada e restrita ao simbólico (o interpretante), localizando-o na dinâ- mica de interpenetrações com o primeiro (ou o imaginário) e o real (o índice), conforme indicado acima. Mas não só. É essencial compreender, como nos permitem inferir as reflexões de Lacan, que a perversão é um quarto que se entrelaça nessas relações.

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