Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Semiose midiatizada e poder: interfaces para pensar os meios algorítmicos e plataformas 231 desafiadas. A forma específica de abdução da espécie é um objeto central para a reflexão sobre que tipo de adaptação ao am- biente desenvolvemos, relativamente às formas de adaptação de outras espécies. Uma via de interpretação dessa adaptação específica da espécie tem sido a capacidade humana de operar abduções nas interfaces entre várias lógicas, incluindo as lógicas de outras espécies. A linguagem material parece ser central nesse proces- so. Assim, não se trata apenas, para os agentes, de capturar um interpretante entre os disponíveis na cultura, mas, além disso, de desenvolver lógicas não disponíveis, pelo interfaceamento de várias lógicas disponíveis. Nesses momentos, que estão não só nas grandes abduções científicas, mas na cultura, o agente se transforma em sujeito. Quando utiliza os interpretantes dispo- níveis, é paciente. São duas situações polares, que, nas práticas sociais, apresentam-se em vários formatos de equilíbrio e desequilíbrio. Ou seja, um agente pode ser mais sujeito ou mais assujeitado. Entre essas duas tonalidades polares, há tons inter- mediários com todas as paletas possíveis. Ou seja, os algoritmos materiais são lógicas que exis- tem, antes de tudo, na esfera do social (cultura, economia e política), com regras e operações centrais na diferenciação da espécie em relação a outras espécies orgânicas. A midiatização é, nesse sentido, não só materialização de imaginários e repre- sentações do real; é, principalmente, o longo processo de construção de algoritmos materiais, que ocupam, no contemporâ- neo, lugar de agenciamento das máquinas midiáticas e de seus conteúdos (indústria de conteúdos), indexadores (classificações das ofertas culturais) e interações (com os públicos e entre os públicos). Nesta gestão realizada pelos meios, os algoritmos realizam e ampliam, em operações dedutivas e indutivas, o poder (cultural, econômico e político) que está incorporado em suas lógicas. Esse processo, entretanto, não é unidimensional. A cultura, na esfera dos usos e recepção sociais, retroage com abduções lógicas e analógicas, trazendo à tona novas realidades, imaginários e potências simbólicas, que ultrapassam os limites dos agenciamentos algorítmicos. Podemos, agora, especificar a hipótese: os algoritmos são signos lógicos, estruturados e estruturantes, que se materia-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz