Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Michael Forsman 242 Ou deve ser entendido mais no “espírito da filosofia” (HANSCOMB, 2017, p. 13), como “pensar sobre o pensamento” com o objetivo de melhorá-lo (PAUL; ELDER, 2014)? Pensar sobre o pensamento, através da reflexão e da dúvida, também pode ser um caminho para uma transformação pessoal mais profunda (RAFFNSØE, 2017). Além disso, a crítica e o pensamento crí- tico podem ser afiliados ao conceito marxista de consciência crítica (BURBULES; BERK, 1999; CHRISTENS, 2015; DAVIES, 2015) e aos ideais e práticas da pedagogia crítica. Ou seja, com uma epistemologia emancipatória e uma prática educativa transformadora, muitas vezes associada à teoria crítica (FREIRE, 1974; KELLNER; SHARE, 2007; 2019). A pergunta é se a mentalidade crítica do estudante de mídia ideal se refere à excelência acadêmica ou ao cultivo de intelectuais públicos e cidadãos engajados. O imperativo crítico (pensar criticamente, ser crítico, agir criticamente) sem ser cínico ou niilista é fundamental para quase todas as formas de ensino superior, embora não em todos os países. Ainda assim, na Suécia, o imperativo crítico é forte e está diretamente ligado aos princípios e práticas da democracia. Na Portaria para o Ensino Superior (Högskoleförordningen), a palavra “crítico” aparece 67 vezes e a palavra “independente”, 205 vezes. Esses ideais são gerais e fortemente acalentados. Esta citação é tirada de princípios para um exame de bacharelado (por exemplo, em estudos de mídia). Aqui, é dito que se espera que o aluno “demonstre a capacidade de procurar, coletar, ava- liar e interpretar criticamente informação relevante numa situa- ção-problema e de discutir criticamente fenômenos, questões e situações”. No entanto, nesses tempos de midiatização profunda, há uma tendência pós-crítica. Agora, qualquer um e todos po- dem ser um crítico, pelo menos on-line, especialmente quando se trata da mídia (cf. MCDONALD, 2009). Há, também, uma ten- dência de que a crítica seja usada em demasia e degenere para uma espécie de conceito solto (ILLOMÄKKI, 2016). Ou seja, um conceito que é constantemente descrito e definido, por diferen- tes partes, em contextos diferentes, para propósitos diferentes. Essa tendência pode ser observada em muitas campanhas de letramento midiático. Em um mapeamento de projetos

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