Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Michael Forsman 244 salidade assumida pelo pensamento crítico e o aumento das implicações políticas da consciência crítica, já que essa última trata da tomada de consciência de si mesmo como sujeito histórico e político e do desafio a um status quo injustificável (BURBULES; BERK, 1999; COWDEN; SINGH, 2015). Essa tensão entre cogni- ção individual (POTTER, 2004) e ação comunitária (KELLNER; SHARE, 2019; MIHAILIDIS, 2018) é notável também no campo do letramento midiático, onde Buckingham (2003) enfatiza a importância da abordagem crítica. Se a educação para a mídia deve se tornar “uma experiência de mudança de vida”, ele também pergunta, retoricamente, “quem define o que é considerado uma ‘consciência crítica’” (ibid., p. 107) e adverte contra certas formas de pensar criticamente que tratam principalmente de definir ideais e interesses da classe média. 3. Os clássicos No grego clássico, o termo kritikos estava relacionado a uma técnica de pensamento chamada kritike, que era usada para fazer leis e separar o certo do errado e chegar a uma deci- são. Com os domínios da medicina, kritikos assumiu um signifi- cado um tanto diferente, foi associado à krisis e ao diagnóstico do ponto (crítico) de virada em um processo corporal (FORNÄS, 2012; RAFFNSØE, 2017). Uma terceira dimensão que pode ser mencionada aqui é que a crítica também estava relacionada às técnicas de conversação e argumentação (cf. Sócrates). Esses três entendimentos (avaliação, julgamento, comunicação) são relevantes, também, para como entendemos hoje a crítica como uma técnica de análise (negativa) e proposições (construtivas) e a ética de “uma vida examinada” (PAUL, 1993). Outra dimensão importante da herança crítica é o antigo desenvolvimento de técnicas de argumentação oral e debate racional e cético. No entanto, com a crescente importância da cultura da escrita, a conotação da mente crítica (e do olhar crítico) tornou-se mais integrada ao pensamento linear e projetivo. Com a tipografia e um público leitor, a noção de crítica e esfera pública ganhou novos significados e nasceu a profissão do crítico (BUTLER, 2002). No entanto, a crítica não diz respeito

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