Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

A criação de uma mentalidade crítica. 245 apenas a fazer julgamentos elaborados sobre a verdade, a arte, a moral. Trata-se, também, de um esforço constante por mais e mais conhecimento verdadeiro sobre o mundo exterior e inte- rior. Encontramos esse ideal no credo de Immanuel Kant (17241804) para o Iluminismo como “a emergência do homem de sua menoridade autoimposta. Atreva-se a saber. Tenha a coragem de usar seu próprio julgamento” (sapere aude). Uma abordagem um tanto diferente do pensamento crítico foi oferecida por Karl Marx (1818-1883) em seu apelo à “crítica implacável de tudo o que existe” (FORNÄS, 2013, p. 508). No marxismo, a criticidade também se associou à noção de uma consciência crítica com- partilhada, especialmente em termos de consciência de classe. Essa foi a premissa e o resultado de uma consciência da injustiça social e, portanto, da necessidade de mudança social e redistri- buição de recursos. Essa epistemologia mais política e emanci- patória conduz nossa exposição à Teoria Crítica e à Escola de Frankfurt, onde a crítica, muitas vezes, é entendida como nega- tiva, comparativa, construtiva e até instrutiva, tanto no sentido teórico quanto no prático (FAY, 1987). A modernidade tem sido descrita como “a era da crí- tica” e, em muitos aspectos, a crítica e uma mentalidade crítica aparecem como ideais universais e cosmopolitas de cidadania e subjetividade cívica (POPKEWITZ, 2008). Esse processo de go- vernança global em torno da libertação e da agência foi talvez previsto por Michel Foucault (1997/1984), que argumentou que a criticidade, ao longo da Era Moderna, e especialmente durante o século XX e após a Segunda Guerra Mundial, havia se integrado na biopolítica do “bom cidadão”. Ou como Judith Butler (2002, p. 7) afirma: “Certos tipos de práticas que são projetadas para lidar com certos tipos de problemas produzem, ao longo do tem- po, um domínio estabelecido de ontologia como consequência, e esse domínio ontológico, por sua vez, restringe nossa compreen- são do que é possível”. O que ela quer dizer, aqui, é que existem certas formas de consciência crítica e de subjetividade que tendem a se institucionalizar por meio de certas práticas, ao longo do tempo, e que isso não apenas define o que atualmente é pre- ferido, mas também projeta o que é possível. Butler (e Foucault) sugere(m) uma forma menos prescritiva de mentalidade crítica

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