Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

A criação de uma mentalidade crítica. 251 para uma consciência transitiva, que torna o homem permeável e substitui o desengajamento pelo engajamento total (FREIRE, 1974, p. 14). Isso pode ser feito com a ajuda de uma “linguagem de possibilidades” (GIROUX, 1994) e com os meios de ação, cria- tividade, arte, etc. Para chegar a este estágio não basta apenas o pensamento crítico, como uma técnica para decisões e avaliações ra- cionais. Para Freire, esse processo se dá por meio de uma in- terpretação aprofundada dos problemas da vida real e com o auxílio da pedagogia crítica, que se inicia com o reconhecimento das sociedades atuais e dos mecanismos históricos de opressão, e de como esses mecanismos se relacionam com a própria vida. A base para que essa consciência cresça é a compreensão das contradições internas do sistema (CHRISTENS, 2015). A tarefa da pedagogia crítica é, portanto, levar membros de grupos oprimidos para uma consciência crítica e tran- sitiva (BURBULES; BERK, 1999), concentrando-se na injustiça social e em como transformar instituições e relações sociais injustas, não democráticas ou opressivas. Esse discurso pedagógi- co vai além dos princípios do movimento de pensamento críti- co, pois se baseia no antiautoritarismo e na capacidade de agir construtivamente em relação à educação e à sociedade em geral (GIROUX, 1994; DAVIES, 2015). Poder desigual, grupos mar- ginalizados, desfavorecidos ou sem voz e que visam trabalhar contra circunstâncias sociais, econômicas e políticas injustas e a perpetuação e legitimação do status quo são outros objetos de investigação e crítica. Nos discursos em torno da consciência crítica, o obje- tivo não está apenas em cultivar o desenvolvimento pessoal de um indivíduo como pensador crítico, mas em usar a educação superior para revelar e superar as condições sociais e os siste- mas de pensamento restritivos e repressivos. Esse empreendi- mento educacional é guiado pela paixão e pela política e tem a ambição de ajudar os estudantes a desenvolver uma consciência de liberdade, em que também reconheçam as tendências autori- tárias e encontrem a capacidade de agir de forma construtiva em relação à educação e à sociedade mais ampla (GIROUX, 1994; cf. DAVIES, 2015, p. 69). Assim, em vez de focar em afirmações de crenças específicas ou proposições falsas para avaliar o seu con-

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