Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Midiatização, pós-verdade e produção de conhecimento sobre a COVID-19 279 público uma prova viva: a prova é a própria vida, a própria experiência vivida. Para a análise proposta, parto do trabalho de Ivo Dittrich (2009), que reconhece que o ethos se refere às partes no enunciado que “apresentavam argumentos para dizer em que medida o seu conteúdo, aquela ação prevista no sentido e no alcance da tese, mostrava-se adequada sob o ponto de vista jurídico e sociocultural” (ibid., p. 66). O ethos também se refere ao respaldo de autoridade do proponente de uma tese e sua correspondência com os princípios e valores morais em jogo num determinado contexto. Em termos de operacionalizar uma análise de discurso, Dittrich (2009) apresenta duas formas de argumentos. Os argumentos legitimadores envolvem “noções de caráter ético ins- critas no conteúdo proposicional da tese” (ibid., p. 66), cujo al- cance não se daria somente pela confiança no proponente, mas na legitimidade da proposta em relação aos valores morais que ataca ou preserva. Sendo assim, a preocupação do enunciador está dirigida “aos valores que estão em jogo, apresentando argumentos que busquem justificar por que a tese, ou sua aceitação, mantém-se consonante ao que se apresenta caro à sociedade que pretende conquistar” (ibid., p. 72). Já os argumentos credenciadores correspondem às “justificativas apresentadas (ou representadas) pelo proponente a fim de mostrar-se merecedor da confiança de seu auditório” (ibid., 2009, p. 70). Essa confiança é colocada com base nas credenciais que o proponente de uma tese reúne. Em muitos casos, essa confiança pode estar ancora- da na representação institucional presumida do enunciador, no ethos prévio ou pré-discursivo (atuar como médico, como pre- sidente da República, como professor e assim por diante), mas também pode se embasar na representação que se constrói no próprio discurso – o ethos discursivo ou ethos dito. Essa diferença não quer dizer que o ethos prévio não seja discursivo, mas que o primeiro está na ordem de um discurso dado, de uma credencial já conhecida, que é reconhecida no momento da interlocução. Já o ethos discursivo se faz no enunciado em ação numa dada situa- ção de comunicação. Segundo Dominique Maingueneau (2008, p. 270), “o ethos efetivo resulta de uma interação entre diversos fatores: o ethos pré-discursivo, o ethos discursivo (mostrado no

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