Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

A pandemia entrelaçando-se com a midiatização 295 a) A universidade como matriz de mediação Ao longo dos trajetos, a instituição universitária fundamentava-se nas noções de autonomia e liberdade de cátedra, constituindo-se conforme rituais que operavam suas possibili- dades de compartilhamento de saberes e de disciplinas, segundo, ainda, formas de intercâmbio entre seus representantes e a sociedade. Destacava-se, por longo tempo, a figura protagônica do professor como principal porta-voz da universidade, enquanto coorganizador e comediador de anúncio e de compartilha- mento de saberes (SERRES, 2013). Esta matriz tem um extenso percurso, e muitas experimentações nela se passam através de seus rituais tecnopeda- gógicos que repercutem, inclusive, sobre a sua governabilidade. Mas, ao longo dos anos, ela foi sendo transformada, incluindo a tarefa nela desempenhada pelo professor enquanto “lugar mensageiro”. Comentando a natureza deste mediador, o pro- fessor alemão Gerard Steiner (nascido em 23 de abril de 1929, Neuilly-sur-Seine, França, e falecido em 3 de fevereiro de 2020, emCambridge, Reino Unido) dizia em entrevista da importância do trabalho do docente associando-a à metáfora dos carteiros postais, enquanto entregadores de mensagens: “É um trabalho muito bonito ser professor, aquele que entrega cartas, embora não as escreva. Somos carteiros e somos importantes. Os escritores precisam de nós para chegar a seu público. É uma função muito importante, mas não é o mesmo que criar” (CRUZ, 2009). O oficio do professor foi sendo substituído, inicialmente, por tecnologias filiadas às matrizes dos “mass media” e, posterior- mente, pelos dispositivos digitais, enquanto espécies de novos “pedagogos emergentes”. Outrora, a simbólica da universidade se engendrava em práticas de contatos, corporificadas em ter- mos mais longínquos, nas missões acadêmicas que nos visita- ram como portadoras de inovações, muitas das quais foram, no Brasil, implementadas e sedimentaram a possibilidade do ensi- no superior, antes mesmo da criação das cidades universitárias. Somente tempos depois é que a condensação da universidade se consolidou em um só ambiente, na forma de campus que vi- ria a se tornar referência nos finais da década 60 do século pas- sado, quando sua identidade foi associada a estas novas edifica-

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