Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Antonio Fausto Neto 296 ções, em termos físicos e simbólicos. Até então, a universidade era acolhida nas malhas das próprias cidades, misturando-se à complexidade polifônica dos ambientes sociourbanos. De algu- ma forma, são tempos nos quais a universidade, ao se mesclar com as edificações das cidades, destacava-se como espécie de “santuário”, enquanto nicho responsável pela manutenção da memória e de transformação das paisagens arquitetônicas, culturais, etc. das metrópoles. Capitais culturais e científicos das universidades misturavam-se aos valores das cidades, criando, possivelmente, uma nova noção de comunidade, da qual futuros candidatos ao ingresso em cursos superiores extraíam refe- rências para construir e subsidiar suas trajetórias de formação. Em larga medida, a criação do campus promove a associação da universidade a uma nova territorialidade, que, assim, escaparia progressivamente da posterior fragmentação do contexto aca- dêmico no qual fora criada. Isto teve consequências complexas na medida em que a universidade passou a funcionar segundo parâmetros de uma realidade própria: foram desaparecendo seus nexos com as realidades que lhe serviram como chão natal, onde foram criadas, e surgiu, em seu lugar, uma entidade au- torreferente e que se materializou e produziu sentidos, a partir dos próprios contornos do campus. Esta desvinculação talvez seja um fato que explique a perda, de certa forma, da conexão simbólica que a universidade tinha com o contexto geográfico e cultural no qual fora criada. E, no lugar desta, surgiu um novo ente cujos trajetos se fizeram segundo narrativas e lógicas ine- rentes à cultura da emergente burocracia das organizações e dos seus imaginários. Possivelmente, as primeiras formas de acesso que jo- vens fizeram para ingressar na universidade estavam associa- das aos valores de um “fazer em companhia”. Eles não se valiam apenas de editais abstratos, mas das referências (orais, etc.) sobre os seus futuros mestres, com os quais podiam com- partilhar a sua formação. Este aspecto funcionava como motivação mobilizadora e, em muitas circunstâncias, definidora de caminhos que os jovens escolheriam para fazer esta passagem. O ingresso na universidade era associado a um ritual não abstrato e burocrático, e sentidos enunciados o associavam a um acontecimento comunitário, chamando, também, atenção para

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