Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

A pandemia entrelaçando-se com a midiatização 303 Refletindo-se sobre as transformações que a internet tem sobre o ambiente pedagógico da universidade, chama-se atenção sobre as possíveis causas destas transformações no comportamento dos estudantes ante os professores, os métodos pedagógicos implementados em suas atividades, bem como seus hábitos de leitura. No contexto no qual comenta o fim dos especialistas – como os professores –, Serres encontra uma exemplificação para mostrar um dos efeitos da cultura e artefatos da midiatização sobre os processos de aprendizado. Ao indagar por que a Polegarzinha tagarela tanto, referindo-se ao comportamento dos estudantes, julga que, na atualidade, a nova posição pedagógica parece não mais estar integrada às si- tuações de interlocução com o professor, segundo expressa, ainda, resposta por ele dada à sua própria pergunta: “Porque todos têm o tal saber que se anuncia inteiro a sua disposição, na mão [...] acessível pela internet, Wikipédia, celular, em inúmeros sites. [...] Ninguém mais precisa de porta-vozes de antigamente, a não ser que seja um deles, original e raro [...]. É o fim da era do saber” (SERRES, 2013, p. 46). Ou seja, decreta-se o fim de uma modalidade interacional de intercâmbio, destacando-se o sepul- tamento do contato vinculante, enquanto dispositivo de apren- dizado em companhia, e a autonomia do sujeito para aprender por sua própria conta e risco nos cenários da midiatização. So- bre as transformações dos hábitos das grandes empresas digi- tais com dados gerados por instituições universitárias e/ou seus integrantes, salienta-se que aquelas já não são apenas gerencia- doras de dados, pois, de maneira unilateral, a experiência huma- na é transformada em matéria-prima para tradução de comportamentos (ZUBOFF, 2020). De um modo distinto do que ocorre nas plataformas, o trabalho científico era composto por refle- xões sobre como se procedia na cotidianidade da pesquisa. Além de se destacar a singularidade da temporalidade, apontava-se uma dinâmica interacional que se forjava na intercambialidade e horizontalidades de processos, geradores de experiências (LATOUR; WOOLGAR, 2000), apontando para uma prática que se forjava em torno de processos de intercambialidades cogerado- ras de experiências dos cientistas, em situação de defrontação reflexiva. Algo distinto, portanto, dos “clubes de interpretação”, matriz que se gera, sem face visível de suas partes, segundo um

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