Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

A pandemia entrelaçando-se com a midiatização 307 Se, outrora, os coletivos universitários deveriam se submeter às lógicas difusas de gestão das tecnologias, em tempos de pandemia houve um esforço inverso no sentido de adequá-los às circunstâncias existenciais de milhares que se defrontaram, por exemplo, com tecnologias de modo precário, no contexto da pandemia. Vários experimentos relatados de modo breve contemplam as transformações que ocorreram em dinâmicas de aprendizados, segundo reflexões compartilhadas por educa- dores e os próprios estudantes. Estas reflexões destacam que o cam us digital não é fruto de uma universidade inovadora, mas consequência de uma universidade em ambiente de inovação (BRAGA, 2021), provocada por situações concretas e próximas às pessoas. Novos “produtos” emergem desta nova realidade. A sala de aula se deslocou para ambientes externos ao campus, no meio rural, levando em consideração a situação de milhares de alunos privados de condições para desfrutarem do campus. Neste novo cenário, professores e alunos valeram-se de novos processos de edição, adaptando textos da literatura brasileira para programas radiofônicos, e outros expedientes, visando à implementação dos currículos escolares (BORGES DE OLIVEI- RA; MESQUITA, 2021). Transformações da comunicação organizacional foram examinadas por pesquisas em programas de pós-graduação, que captaram marcas da pandemia no ambiente de trabalho de empresas, especialmente nas relações dos seus profissionais com seus usuários (OLIVEIRA; SOARES, 2021); ob- servações etnográficas evidenciaram efeitos da pandemia sobre as transformações de festas populares, como os festejos de São João no Nordeste (TRIGUEIRO, 2021); estratégias de resistência sobre a pandemia, no âmbito de práticas – como algumas de co- munidades quilombolas –, foram descritas (TESSAROTTO; HEBERLÊ, 2021), pela ida a campo de professores e alunos. Anto- logias foram confeccionadas no formato de literatura de cordel para serem usadas em sala de aula – reunindo textos escritos pelos próprios estudantes e professores sobre a COVID –, mas conforme lógicas, nomenclatura e universo de vida dos próprios grupos sociais locais; o ambiente midiático religioso não escapou da circulação de construções enunciativas sobre a pande- mia, na medida em que seus ofícios passaram a ser permeados pelas dores das conjunturas e do mundo da vida (SBARDELOT-

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