Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Ciro Marcondes 36 para a questão da comunicação. Luhmann vem de outra escola teórica, que se baseia nos estudos das teorias contemporâneas, que ele chama de comunicação, mas que não é a nossa comuni- cação. E essa maneira de ver é nova porque ela se apoia na cibernética, uma cibernética de segunda ordem, que diz que comuni- cação em princípio não existe. Tampouco informação. Que esses não existem enquanto dados fixos e estáveis, mas como relações. Quer dizer, nós podemos constituir isso ou não, dependendo do relacionamento que fazemos com os outros. Então, criou-se uma nova interpretação da comunicabilidade, embora baseada numa não existência da comunicação. E esta nova comunicação, ela mais ou menos exclui, impede as velhas interpretações da comunicação. E o que nós temos é uma repercussão daquilo que lá na Europa se fez no começo do sécu- lo passado. Um conceito que se constrói durante o processo da própria comunicabilidade. Então, o que quero dizer é que comunicação enquanto metafísica não existe. Metafísica no sentido clássico, aquele que dizia que comunicação é transporte, transferência, de alguma coisa, quando, na verdade, não é nada disso. Não existe transfe- rência de nada. Existem apenas tentativas ou possibilidades de falar com o outro, e o outro vai entender como ele deseja, de forma que os mundos, as mentes, permanecem separados. Era isso em princípio o que eu queria nessa exposição em que estou aqui arranjando as ideias, sem roteiro, só tentando recompor o mapa do que eu expus no texto grava * d * o * . José Luiz Braga: Pergunto então ao professor Ciro, se considerarmos que as aprendizagens podem ser inventivas e produtivas de realidade social, ou seja, que a construção comunicacional da realidade implica o desenvolvimento de estraté- gias para enfrentar os problemas da própria sociedade, eu faço duas perguntas correlatas a partir dessa base: primeira, que experimentações sociais seriam possíveis para responder a sua pergunta a respeito do que virá a ser esse homem do século XXI? E a segunda, qual pode ser o papel da universidade, dos professores e de todos que participam dessa experiência milenar para enfrentar os problemas que você apontou?

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