Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

José Luiz Braga 46 gente, tomando-a como anterior mesmo ao Sapiens – pois o Homo habilis, que nos precede, já mediava tecnologicamente suas relações com o mundo inventando instrumentos, pelo poli- mento da pedra. A criação de tecnologias intermediadoras é que teria nos levado, na sequência, ao estágio de “conhecedores” – sapiens – e atravessaria a história da espécie. Embora fosse uma alternativa válida, creio ser mais produtivo me concentrar nas relações do conceito abrangente sapiens com o conceito específico de “midiatização” – ou seja, como referente às tecnologias interacionais contemporâneas, de um período de cerca de 120 anos. Para realizar essa correlação, devo estabelecer um ter- mo médio, que pode ser diretamente relacionado ao processo evolutivo geral do Homo sapiens, de seu surgimento até hoje, e que também se coloca, agora, em termos específicos, para o avanço midiático do último século. Trata-se da aprendizagem na descoberta de novos conhecimentos em relação aos problemas do contexto social. Embora a expressão “aprendizagem” seja corriqueiramente associada ao campo da Educação, eu a trago aqui como um conceito comunicacional. Antes de entrar nessa discussão, entretanto, devo caracterizar a relação que faço do termo aprendizagem com o conceito Sapiens. A expressão Homo sapiens é estabelecida na classifica- ção de Lineu, no século XVIII. O segundo termo informa um traço característico da espécie. Refere-se ao fato de que somos dotados de razão e por ela conhecemos o mundo – sábio, o que sabe. O saber racional caracterizaria a espécie. Parece razoável, mas a categoria esconde outra qualidade, que talvez mereça ser mais enfatizada. Ser dotado de razão é o dado biológico fundamental – mas o conhecimento que se baseia sobre a razão não é direta- mente de ordem biológica – temos que construí-lo socialmente, como é evidente por sua elaboração continuada, através dos tempos, conforme os diferentes problemas encontrados a cada momento e em cada contexto. O fato de que aprendemos (e que necessitamos apren- der para gerar conhecimento) se mostra, então, como uma ca- racterística central da espécie. Aprender implica que, antes desse gesto fundamental, ainda não sabemos. Significa que, mais

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