Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Eneus Trindade 92 teórico para se entender na prática as diferenças que os contextos das humanidades digitais podem apresentar em seus te- mas, conteúdos, iconicidades e figurativizações. E que os cálcu- los nas formulações discursivas, orientadas aos consumidores, apresentarão tematizações e figurativizações discursivas que refletem o contexto de identificação com a cultura em que se inserem. Indo além do nível discursivo, percebemos que, em termos de uma semiótica francófona, é como se os algoritmos nos dessem um programa narrativo auxiliar, que estaria subor- dinado a um programa narrativo principal das grandes marcas comerciais que se configuraria na perspectiva de buscar a con- junção com o objeto de valor cognitivo e pragmático das marcas, o lucro, que, por sua vez, depende do programa narrativo auxiliar do consumidor com a marca na conquista também de um objeto de valor (cognitivo e pragmático oferecido pela marca) para os consumidores. Já na perspectiva da semiótica em Peirce, aplicada à publicidade (cf. SANTAELLA, 2002), com vistas ao estudo das semioses dos sentidos das marcas e consumidores, na mediação do algoritmo, estas semioses estariam enquadradas na perspec- tiva da interpretação dos dados, numa escala de interpretantes dinâmicos que iria das ocorrências do mais recorrente ao mais raro e pouco provável. As formulações acima, ditas desta maneira, fazem pa- recer que tudo estaria programado no mundo digital e que o mundo sociocultural seria determinado pelas lógicas algorítmi- cas. Num certo sentido, isso pode ser entendido como verdadei- ro, mas é apenas uma via de um processo de sentido complexo de mão dupla ou de múltiplas direções, na atual configuração das redes. O algoritmo pode determinar a realidade, mas a rea- lidade também pode determinar o algoritmo. Assim, voltamos à questão lançada na seção anterior desta discussão: mas como fica a questão da possibilidade de ajustamento e do acidental nas interações algorítmicas? Os algoritmos para o consumo serviram apenas ao varejo? Ou as ofertas das marcas passariam a habitar a mente dos consumidores também nas ações de ordem afetiva, cognitiva na relação com as marcas?

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