Uma proposta de APP60+: considerações a partir de uma revisão bibliográfica

Resumo


  1. Introdução


Esta pesquisa parte do contexto do aumento da expectativa de vida humana, como um movimento mundial, e as mais recentes relações tecidas entre sociedade e tecnologias cotidianas. Por tecnologias do cotidiano entende-se todo tipo de aparato mediador das comunicações, pessoais, profissionais e de serviços.


É nesse contexto que o termo “inclusão digital” tem aparecido também como indicativo do “ter que fazer parte”, do contrário estará excluído. A partir de dados objetivos, como aqueles produzidos em pesquisas de consumo de mídia e procurados na observância do objetivo desta pesquisa, pessoas com 60 anos ou mais parecem estar no campo dos que menos acessam a internet (59%, contra ao menos 90% nas outras faixas de idade) (CETIC.BR, 2020a). Entre aqueles que nunca utilizaram a internet, nesta mesma faixa de idade, os principais motivos para isso são a falta de interesse ou habilidade e as preocupações relacionadas à segurança e mesmo à privacidade (CETIC.BR, 2020b).


É neste campo complexo de reflexão que a pesquisa se desenvolve, inscrevendo-se no âmbito da pesquisa aplicada. Como resultado, pretende-se criar uma aplicação que reúna informações sobre serviços sociais e de saúde disponíveis para a população com 60 anos ou mais, com recorte nas cidades de Belém e Ananindeua, os dois principais e maiores municípios do Pará. O projeto se justifica ao se apresentar como espaço de fluência digital da pessoa idosa que não tenha proximidades com buscadores de internet ou mesmo que enfrente distanciamentos de usos com aparelhos celulares, por exemplo.


Assim, este trabalho também se apresenta como espaço de discussão e ponto de partida de uma pesquisa interdisciplinar que engaja as frentes da Comunicação, das Ciências da Computação e da Psicologia a caminho da construção da aplicação - produto que mora no horizonte deste trabalho. Antes de descrever a proposta e caminhos para a sua execução, deve-se partir de uma revisão sistemática de literatura que comporte os últimos 10 anos de publicações científicas nesse horizonte, num exercício ativo de levantar categorias de discussão que coloquem a proposta em perspectiva. E é justamente os resultados dessa revisão sistemática da literatura sobre idosos e aplicativos que vamos discorrer neste trabalho.



  1. De onde partimos


A revisão da literatura em dado horizonte está para além de sistematizar e descrever o que já está posto (OKOLI e DUARTE, 2019), deve ser também uma proposta de investigação com um olhar para o futuro. Dito isto, em uma exploração inicial no Google Acadêmico utilizando os termos “aplicativo” e “idosos”, no período de 2012 a 2022, as publicações dominantes estão relacionadas ao campo da saúde (auxílio no treino da memória, no uso de medicamentos, em aspectos da verificação de sinais vitais, entre outros).


Como característica própria da observação mais minuciosa da literatura, é possível perceber lacunas que podem ser ocupadas mais amplamente, tanto no aspecto científico quanto no retorno social da pesquisa. É nesse sentido que esta pesquisa aplicada se delineia. Elaborar um aplicativo na área de serviços, em específico, é promover um outro tipo de lugar para o dito público-alvo ou usuário de internet. É lhe conferir um tipo de espaço digital de igual importância, aquele dedicado à autonomia de pessoas mais velhas que, por variados motivos, sintam dificuldades e experienciem distanciamentos em relação aos usos da internet.


            Não se quer, aqui, construir mais um espaço de obrigatoriedade, mas, sobretudo, criar proximidade prática com a fluidez digital no percurso dessas interfaces que habitam os cotidianos sociais e com isso contribuir com o processo de fluência digital das pessoas com 60 anos ou mais.



  1. Metodologia


Na fase inicial desta pesquisa, a metodologia de trabalho tem duas frentes: (1) aquela encontrada na sistematização da literatura neste horizonte e (2) aquela levantada a partir de conceitos que reverberam partindo da experiência do usuário e da elaboração de produtos digitais, com foco em aplicações para telefones celulares. Posteriormente, ambas as frentes irão nos ajudar a produzir o aplicativo proposto, evidenciando o caráter de pesquisa aplicada deste trabalho. Este tipo de pesquisa é definido por seu interesse prático, isto é, que seus “resultados sejam aplicados ou utilizados, imediatamente, na solução de problemas que ocorrem na realidade” (MARCONI e LAKATOS, 2002, p. 20).


            Este trabalho apresenta a primeira frente metodológica na elaboração da aplicação. A revisão de literatura considera o período de 2012 a 2022 e se utiliza, principalmente, do Google Acadêmico como plataforma de acesso às publicações acadêmicas. A sistematização das publicações conta ainda com levantamento a partir de formulário digital, dando corpo ao material coletado e à visualização das categorias de discussão. Mas, antes disso, vale descrever a proposta de aplicativo, com detalhamento da revisão sistemática ficando para a versão completa de publicação deste trabalho.



  1. O aplicativo


Elaborar um aplicativo (app) que tenha como foco as necessidades de informação sobre saúde e demais serviços sociais gratuitos ofertados nos dois principais municípios da Região Metropolitana de Belém (RMB), no Pará, no caso, Belém e Ananindeua, para o conhecido público de terceira idade, tem seu caminho atrelado ao constante interesse deste público pela procura de informações verificadas e de qualidade disponíveis em um só lugar. A dispersão dessas informações em sites institucionais e em portais de notícia, por exemplo, pode ser um problema considerando usos já levantados junto a esse público específico, sobretudo se considerarmos a baixa inserção na internet, conforme a já citada pesquisa sobre domicílios realizada pelo CETIC.BR em 2020 (CETIC.BR, 2020b). O aplicativo resultante da pesquisa se apresenta como uma significativa contribuição para combater a exclusão digital e contribuir com a fluência do público idoso.


O desenvolvimento do app será fortemente acoplado a critérios de usabilidade em acordo com as Heurísticas de Usabilidade de Nielsen (1990, 1994) e será construído com base no HTML, CSS e Java Script, linguagens de codificação mais populares, simples, de manejo rápido e de um custo mais baixo que caracterizam a solução como um app híbrido, desta forma pretende-se usar framework (conjunto de código pronto), como por exemplo, Bootstrap, AngularJS, JQuery Mobile + Backbone.js, Cordova, phonegap, Ionic, pois criam um executável com seu código HTML, na proteger do código.


Sendo assim, esse modelo pode utilizar recursos tanto da internet como do dispositivo, podendo ser executado nas plataformas Android e IOS, o que tira a necessidade de se desenvolver mais de um aplicativo nativo só para tê-lo rodando em diferentes plataformas.


Então, é objetivo geral da proposta elaborar aplicativo com foco no público 60+ morador de Belém e Ananindeua, no Pará, com levantamento e disponibilização de informações sobre serviços gratuitos para a população idosa abrangendo os campos da saúde (psicológica e física) e social, a fim de contribuir com a fluência digital nessa faixa de idade, além de expandir os conhecimentos acadêmicos sobre a temática idoso. As fases previstas de execução, são: (1) Levantar os principais interesses do público idoso em relação à informações sobre serviços públicos de saúde e sociais; (2) Mapear os serviços de saúde e sociais gratuitos para idosos e seus procedimentos básicos de acesso nos municípios de Belém e Ananindeua, no Pará; (3) Sistematizar e organizar as informações levantadas para compor o aplicativo que visa dar acesso a essas informações; (4) Aplicar as Heurísticas de Usabilidade de Nielsen para construção das telas; (5) Realizar testes junto ao público-alvo, antes do lançamento final do produto, considerando ajustes possíveis relacionados ao item anterior; (6) Realizar o lançamento do produto final; e, (7) Promover a difusão das informações sobre tais serviços a fim de contribuir com a fluência digital e qualidade de vida dos idosos.



  1. Considerações


De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil representada pela OPAS (OPAS, 2021), o período de 2021 a 2030 é definido como “A Década do Envelhecimento Saudável” visando construir políticas públicas e privadas voltadas à equidade e à dignidade da condição humana. Assim, no que se refere a especificidade deste projeto, os objetivos estão direcionados a contribuir para produzir conhecimento no contexto amazônico, no locus geográfico a ser delimitado como o descrito, elegendo um bairro em cada município para caracterizar os processos de exclusão digital vivenciados pela pessoa idosa nos contextos demarcados.


Nessa direção, estudos das diversas áreas do conhecimento têm colocado esta problemática como central (STRECK, 2020; CASTRO, 2016; AUTOR, 2019), ponto de partida desta proposta.


Diante deste cenário, Botelho (2016) afirma que o processo de envelhecimento pode ser compreendido, através de um olhar holístico, como um fenômeno biopsicossocial, sendo necessário, portanto, focar não somente nas mudanças individuais, mas também para os aspectos históricos, culturais e sociais que implicam de forma simultânea na qualidade de vida daqueles que envelhecem. A autora acrescenta ainda que este é um processo contínuo que pressupõe um caminho percorrido do nascimento até a morte, logo surge o lema de “acrescentar vida aos anos, não apenas anos à vida” (BOTELHO, 2016, p. 111).


Nota-se então que os idosos buscam possibilidades de cuidado, escuta e realizações, para que garantam um envelhecimento ativo, longevidade e assim consigam de fato envelhecer com futuro, com perspectivas e garantia de seus direitos.


Nesse sentido, esta proposta reafirma a sua relevância, considerando-se que visa contribuir para a inclusão digital e qualidade de vida do idoso, promovendo a difusão e acesso às informações sobre serviços públicos de saúde e sociais. Com isso, pretende-se, ainda, colaborar com a fluência digital desse público-alvo, a qual é aqui compreendida como o conhecimento e a autonomia que idosos dispõem para usar dispositivos tecnológicos como recurso de interação e de comunicação.

Publicado
2022-11-05
Como Citar
DA CUNHA, Elaide Martins; DA SILVA QUINTO, Wanderson Alexandre; SIMÕES, Camila de Andrade. Uma proposta de APP60+: considerações a partir de uma revisão bibliográfica. Anais de Resumos Expandidos do Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais, [S.l.], v. 1, n. 5, nov. 2022. ISSN 2675-4169. Disponível em: <https://midiaticom.org/anais/index.php/seminario-midiatizacao-resumos/article/view/1408>. Acesso em: 24 abr. 2024.