Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

José Luiz Aidar Prado 158 isso mesmo, Freud pôde enunciar que a pulsão seria uma medida da exigência de trabalho imposta ao psiquismo, em decorrência de sua ligação à or- dem do corpo. [...] Essa encorpação [...] evidenciaria que as intensidades pulsionais funcionariam como um imperativo para fazer o psiquismo efeti- vamente trabalhar. Que trabalho seria esse? O de dominar essas intensi- dades, de modo a diminuir suas perturbações em função do desprazer que elas produziriam. Beividas, ao tentar conectar a psicanálise com a semiótica tensiva, fala em regimes pulsio- nais, entendidos como puras forças, “de semantismo frágil, de fraca representação”, que se convertem “num regime patológico” (BEIVIDAS, 2020, p. 21), ou seja, nas histerias, psicoses, fobias, etc. Para que isso ocorra intervêm mecanismos de con- versão como recalque, denegação, foraclusão e sublimação. Para Beividas, esses regimes patológicos seriam estruturas de discurso, que a semiótica descreveria a partir de suas “modu- lações tensivas e modalizações sintáxicas” (ibid., p. 21). Desta forma, para Beividas, o regime patológico decorreria do regime pulsional, “caracterizando um pathos de fundo da subjetivida- de humana” (ibid., p. 21). Depois, há uma segunda conversão, em que as estruturas patológicas, derivadas do regime pulsio- nal na primeira conversão, levam ao regime passional. Essa segunda conversão ocorreria segundo a ação de mecanismos como: identificação, idealização e transferência, em que é fun- damental a relação com o Outro. As pulsões e as paixões fariam parte, portanto, do universo tímico5. Isso possibilita, segundo Beividas, a semiotização das pulsões a partir da semiótica ten- siva, examinando “seus destinos patológicos e suas decorrên- cias passionais” (ibid., p. 21). Quando o enunciador-convocador de consumo inter- pela o enunciatário, ele apela a um circuito pulsional e suas gra- máticas, com os decorrentes regimes passionais, para oferecer 5 Esse universo se refere às disposições afetivas. O dicionário (GREIMAS; COUR- TÉS, 2008) assim descreve essa categoria tímica: ela “serve para articular o se- mantismo diretamente ligado à percepção que o homem tem de seu próprio corpo. Articula-se em euforia e disforia.”

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