Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Circulação de rostos: da fórmula mágica à resistência 181 há um cerceamento da imagem da vítima, o que implica a permanência de um imaginário da favela, do tráfico e do preconceito. As imagens acima mencionadas (figura 07) não são feitas para circular. São imagens que capturam momentos para as famílias e que nem sempre representam a criança assassinada, a exemplo da fotografia de Kauan, tirada anos antes de sua morte. Ou seja, as fotografias de álbuns trazem uma face, mas é uma face que não se relaciona com o fato dos assassinatos, não os indicia, assim são imagens que trazem a infância, a timidez ou a alegria típica, mas que não conseguem se fixar como imagens-síntese (ROSA, 2012). Passados alguns dias, desaparecem e só retornam quando puxa- das por um novo caso a fim de indicar a estatística. Neste sentido, vemos que a imagem do rosto não é uma fórmula mágica, como poderíamos supor a partir do didatizado pelos meios e por grandes tragédias de amplitude internacional, isto porque tal fórmula esbarra em um processo que transcende o aprendizado das lógicas de mídia e até mesmo as de midia- tização, essencialmente centradas em reconhecimento no fluxo adiante. 3. Condição de reconhecimento e o contra-agenciamento O aspecto central que emerge é a condição de reconhecimento e, consequentemente, a condição de visibilidade. Judith Butler (2017) trata da condição de reconhecimento como algo que antecede o reconhecimento em si. Se o reconhecimento caracteriza um ato, uma prá- tica ou mesmo uma cena entre sujeitos, então a condição de ser reconhecido caracteriza as condições mais gerais que preparam ou modelam um sujeito para o reconhecimento – os termos, as conção étnica (e por que não ética?) dos jornalistas. O jornalismo baseado no furo de reportagem e na ausência de um modo de condução mais empático muitas vezes transfere a responsabilidade de sua voz para as fontes oficiais, em especial a polícia, o que resulta em abordagens pouco sensíveis às realidades daqueles já excluídos socialmente. Neste aspecto há que se aprender um outro modo de fazer jornalismo.

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