Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Göran Bolin 108 calcular esses dados, o que permitiu a sincronização de conjuntos de dados em escalas sem precedentes. Assim, a digitalização oportunizou um alcance cada vez maior às métricas em todas as esferas da vida (BEER, 2016), e a compreensão das consequências sociais e culturais mais amplas disso deve ter relevância sociológic A a m . étrica, conforme usada neste artigo, refere-se a um “padrão de medida” (Oxford English Dictionary). Este padrão é produzido através de medidas, e se pode dizer que a métrica é o resultado da prática da medida. A medida tem uma dimensão epistemológica enquanto fixa e preserva eventos no espaço e no tempo. Entretanto, alguns aspectos da realidade não se prestam à simplificação e à redução que a medida requer, e, portanto, eles permanecem invisíveis. As métricas expressam uma parte das dimensões de um evento, em detrimento de outras. Elas cons- tituem uma imagem da realidade, mediada, que os usuários midiatizados veem e à qual são convidados a reagir. Dentro das indústrias da cultura e da mídia, a métrica está principalmente ligada à medida de audiência. Nas mídias comerciais, o interesse em “conhecer a audiência de alguém” tem sido parte central dos modelos de negócios desenvolvidos a partir dos meios de massa tradicionais (BJUR, 2014), mas com a digitalização novos modelos de negócios se desenvolveram, criando estatísticas de audiência processadas algoritmicamente (BERMEJO, 2009; BUZZARD, 2012). Os meios de massa tradicionais tiveram de se ajustar a esta nova situação, enquanto as re- des sociais, recém-criadas, desde o seu início já adaptavam seus trabalhos aos ambientes de produção guiados metricamente (BOLIN, 2011; KENNEDY, 2016), e vimos o crescimento de uma “indústria de dados analíticos” (BEER, 2018), cercada por novas terminologias centradas no “big data” (BOYD; CRAWFORD, 2012; ANDREJEVIC, 2013), na “biométrica” (GATES, 2011), na “gamifi- cação” (WHITSON, 2013), no “perfil social” (GOULD, 2014), etc. Isto tem privilegiado novas formas de como os meios podem se relacionar com suas audiências, com o desenvolvimento de no- vas estratégias textuais, por exemplo, o jornalismo “click-bait” (WAHL-JORGENSEN et al., 2016); “economias do like” (GERLITZ; HELMOND, 2013) e novos modelos de negócios (BOLIN, 2011) – os quais são todos construídos com base em métricas.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz