Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Göran Bolin 114 “Mudou minha percepção de quão relevante ou importante algo era, apenas ao rolar a tela. Se você vê que um post tem 20 mil curtidas e vê algo que tem menos, eu, pelo menos, as classifico, e algumas notificações vão parecer mais importantes. Então vou ler essas antes de ler as notícias me- nos importantes, porque há muita informação. Eu achei isso difícil.” Os jornalistas frequentemente se referem ao valor das notícias que relatam, o que inclui, além da relevância e do inte- resse público, também a importância de uma notícia em termos de quão “nova” ela é. Esta doxa também se alimenta do discurso em torno das notícias e se torna uma convenção social que se corre o risco de não observar ao não a reconhecer, por exemplo, ao compartilhar uma notícia antiga no seu feed e revelar que não sabia que o fato era de várias semanas atrás. Se você tiver feito isso, corre o risco de ser considerado “desatualizado” e desinfor- mado sobre os acontecimentos mais recentes do dia no mundo inteiro (qualquer que seja o dia). O valor das notícias em termos de “relevância” ou “in- teresse público” também se revela, entre os usuários de redes sociais, como quantidade de engajamento com uma postagem ou feed de notícias. E se a quantidade de engajamento não pode ser determinada por um usuário, ele ou ela também fica desorientado, como nesta combinação de falas de dois informantes: “É interessante ver o que a maioria pensa, porque assim posso ver se vale a pena olhar isso...” “Você quer saber quão popular a página é antes de curti-la.” Como se pode notar por estas falas, as métricas repre- sentam popularidade e as duas citações ilustram duas aborda- gens diferentes a ela. A primeira fala indica um tipo de economia temporal, em que o informante utiliza as métricas como indica- dores de importância (cf. SCHRODER, 2015). A segunda expres- sa algo similar, mas também um pouco diferente, uma vez que aponta para a popularidade da postagem em termos quantitati- vos. Se o primeiro exemplo aponta para o valor para o usuário,

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