Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Circulação e midiatização capitalizadora nas sociedades hipermidiatizadas 153 Carlón. Não abordarei aqui os esquemas de Carlón, pois já o fiz em artigo anterior (PRADO, 2020). Na circulação multidirecio- nal há mudanças de sentido entre uma e outra fase, por exemplo, quando vídeos são postados nas redes numa primeira fase e se dá uma dispersão intrassistêmica, e posteriormente numa se- gunda fase os sentidos alcançam os meios massivos e finalmente voltam para as redes, quando, por exemplo, celebridades ou influenciadores comentam algum conteúdo. 2. Branding na geração de mais-valor Para entendermos, no entanto, a midiatização nas so- ciedades hipermidiatizadas, não basta falar em circulação. É preciso enfrentar também a questão da construção do valor e do branding. Fontenelle, ao abordar a questão do valor emMarx, traz as três concepções de tempo-espaço partindo da aborda- gem de David Harvey (2013): a) teoria absoluta; b) teoria relativa; c) teoria relacional. Na teoria absoluta espaço e tempo são separados; o espaço é o domínio geográfico, uma rede imutável e fixa, e o tempo é histórico. Diz Fontenelle: “Nesse espaço, as coisas materiais são claramente identificadas e descritas. Em Marx, essa concepção abrange o domínio dos valores de uso, dos direitos de propriedade da terra, das fronteiras do Estado, da existência física da fábrica, da mercadoria como um objeto ma- terial, do corpo do trabalhador” (FONTENELLE, 2020, p. 13). A teoria relativa entende de outro modo as estruturas espaçotemporais, considerando a distância entre dois sítios como relativa, dependendo do tipo de transporte usado. Se o transporte é feito por avião, o tempo é muito diferente daquele feito por navio. O valor de troca emMarx opera segundo essa segunda teoria, num espaço relativo, “onde mercadorias e dinheiro são postos em constante movimento” (ibid.). A terceira teoria, a relacional, é a que compreende espaço-tempo como produto da matéria e do processo, sendo esse o domínio fundamental da teoria de Marx, pois o capital cria seu próprio espaço-tempo. Para Fontenelle, essa terceira concepção é fundamental “para compreender o al- cance das concepções de capital como valor em movimento e de valor como relação social internalizada na mercadoria” (ibid.).

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