Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

José Luiz Aidar Prado 154 Essas três concepções espaçotemporais convivem em tensão dialética permanente: “o valor no espaço-tempo relacional de- pende do trabalho abstrato em espaços-tempos absolutos da produção, domínio de extração de mais-valor. De outro modo, o espaço-tempo relativo, onde ocorrem as relações de troca e a mercadoria dá seu ‘salto mortal’ é o que possibilita a concre- tização do valor” (ibid., p. 14). A extração do mais-valor ocorre no espaço-tempo absoluto, onde o trabalho concreto se trans- forma no abstrato. Para Fontenelle, o capitalismo comunicacio- nal ainda depende da criação do mais-valor, como se pode ver na dependência do capitalismo digital do trabalho precarizado/ uberizado. Quando a mão de obra se torna mais cara num sítio, a planta esvai para outro canto: “Foi isso que ocorreu a partir da reforma neoliberal que começou a ganhar força nos anos 1980, quando esse trabalho produtor de mais-valor foi deslocado para regiões geográficas distantes” (ibid., p. 15). O texto de Fontenelle busca examinar como o branding tem um papel importante nessa circulação do capital e na pro- dução do mais-valor, como organizador no espaço-tempo relacional do valor. O branding teve sua ascensão em meio a duas grandes transformações no capitalismo a partir da década de 1980: o processo de financeirização (temporal) e uma revolução na logística (espacial), ambas facilitadas pelas novas tecnologias de informação. Essas duas transfor- mações históricas ilustram bem como o capital de fato cria seu próprio tempo-espaço e são fundamentais para exemplificar as complexas relações entre produção, circulação e distribuição de valor que foram reconfiguradas radicalmente nos últimos quarenta anos, mas que ainda mantêm seu centro na extração do mais-valor a partir do tra- balho (ibid., p. 16). É no rastro da financeirização que as marcas se torna- ram mapas cognitivos, sistemas de significado e de modos de vida “a partir dos quais o mundo passaria a ser compreendido e avaliado” (ibid., p. 17). Assim, “o capital imaterial que as marcas representam deve indicar a capacidade delas produzirem valor

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz