Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

José Luiz Aidar Prado 164 de interação específicos. Muitas vezes o próprio produtor – sem necessidade do olheiro – promove a circulação, desde que tenha capacidade autoempreendedora. A cultura de consumo da globalização se nutre dessa grande mobilidade empreendedora de corpos, valores-signos e fichas simbólicas, baseada numa ampla grade em rede sociotéc- nica. Essa rede não se nutre apenas de regimes de programação, mas também de regimes de ajustamento (LANDOWSKI, 2014), em que os enunciatários são convocados nas redes de desejos, como vimos. Para acionar tais redes as convocações precisam criar identificações, que ativam os campos tensivos. Os discur- sos não falam somente aos intelectos, mas aos corpos. Nesse sentido, os actantes dessa nova cultura de consumo são corpos, actantes digitais e outros tipos de enunciadores, inclusive algo- rítmicos, que detêm algum poder de entrada e de convocação da atenção nas redes. O que interessa nesse processo não é somente a existência dessas redes acopladas, mas as conexões in- teracionais (e pulsionais) produzidas nessas redes de desejo e de capitalização, caracterizando a midiatização como dinâmica semiótica materializada em interações entre diversos actantes que produzem sentidos, visando que o consumidor queira bus- car sua satisfação nessas e por meio dessas redes. Essa circulação produz mais-valor através da circulação de imagens, textos, vídeos, likes, etc. Os enunciadores mais valorizados são justa- mente os que têm elevada capacidade de comunicação nessa economia circulatória geradora de atenção. Ao mapearmos a circulação e os modos de interação, é preciso também dar conta da relação entre fatores econômicos e não econômicos dos circuitos pulsionais nessa processualidade comunicacional produtora de mais-valor. Brian Massumi (2020) propõe que se tome de volta o valor. Não se trata de impor critérios de juízo ou de instalar uma régua normativa, mas de revalo- rar o valor, para além da normatividade padrão neoliberal, para além do juízo. A oposição bem/mal e normal/patológico seria substituída pela diferença qualitativa dos modos de existência que se sustentem em processos relacionais e em uma ética re- lacional. Nesse sentido a revaloração dos valores defendida por Massumi transborda do domínio econômico na direção de uma ecologia dos poderes.

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