Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Circulação e midiatização capitalizadora nas sociedades hipermidiatizadas 163 a operação de sujeitos acontecimentais, ou seja, voltados à democracia radical, pois aqueles que investem suas identificações no circuito de ódio são sujeitos obscuros, que apostam na busca dos valores absolutos e de um gozo total, pleno, e sua identidade se constrói a partir da destruição da do outro, que é construí- do como inimigo. Por isso Mouffe afirma que um projeto demo- crático não pode apostar no antagonismo, mas no agonismo, na partilha do sensível, tratando outras parcelas do social com as quais há discordâncias como adversários e não como inimigos (MOUFFE, 2015, p. 31). 4. Conclusão A circulação multidirecional faz com que se produzam valores-signos em todos os cantos do globo, gerando eventos e negócios, possibilitando que o mundo funcione como uma ci- dade de projetos10, termo de Boltanski e Chiapello (2009) que caracteriza o trabalho flexível do capitalismo global em que se trabalha e se pensa o futuro a partir de projetos, diferentemente das cidades industriais da modernidade. Um olheiro pode achar um valor-signo nos locais mais distantes do mundo e ligá-lo a traços de sociabilidade (e a receitas modalizadoras) para confi- gurar um novo projeto e produzir mais-valor. Se isso criar atenção e gerar convocação, circulará pelas redes rapidamente, ge- rando valores de diversa natureza (não só na esfera econômica), sensibilizando os consumidores interativos conforme regimes de Kant, segundo o qual todo valor deve poder se submeter à universalização” (2001, p. 48). Assim, as duas principais direções de ordenamento dos sistemas de valores são: a exclusão-concentração, regida pela triagem, e a participação- -expansão, regida pela mistura (ibid.). 10 Boltanski e Chiapello (2009) falam da cidade de projetos dentro do terceiro espírito do capitalismo, a fase neoliberal. O conceito de cidade visa modelizar os tipos de ações dos atores ao tentar resolver polêmicas práticas orientadas à justiça, segundo certas lógicas de legitimação. Enquanto o primeiro espírito, do capitalismo liberal clássico, invocava justificações baseadas em compromissos entre a cidade industrial e a cidade cívica, o terceiro espírito, da cidade de projetos, opera em rede e apresenta a vida social não mais a partir de deveres e direitos, como num mundo doméstico, mas a partir de uma multiplicidade de encontros e conexões temporárias. O projeto é, então, um conjunto de conexões ativas capazes de gerar mais-valor, através da produção de objetos, ligações, criação de atenção, etc. Segundo nossos autores, é um bolsão de acumulação temporário criador de valor em e pela rede.

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