Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Circulação de rostos: da fórmula mágica à resistência 173 desenvolvem movimentos de circulação intramidiáticos e intermidiáticos (FERREIRA, 2013), porém se expandem para outras complexificações derivadas do processo de “pôr em fluxos”. As- sim, para retomarmos as “aparições” das imagens de rostos de crianças e observarmos suas lógicas precisamos recuperar al- guns rastros dos acontecimentos a que se referem. A fotografia de Omran Daqneesh (fig. 02), de 5 anos, foi efetuada por Mahmoud Raslan para o grupo opositor Aleppo Media Center (AMC), que, embora seja um conglomerado de mídia, recorre ao trabalho de amadores, de ativistas. Daqneesh foi encontrado entre os destroços de um prédio em Aleppo, em agosto de 2016. A imagem ganhou grande circularidade pelo fato de o menino estar com o rosto coberto de sangue, em estado de choque, mas sem se negar a olhar para a câmera. Tão logo foi postada, a imagem foi inscrita em inúmeros espaços midiáticos, hegemônicos ou não. O autor da imagem, Raslan, disse em entrevista ao The New York Times que a imagem foi produzida com o propósito de “viralizar para que o mundo saiba como é a vida aqui”. Este objetivo foi alcançado quando a fotografia passou a compor a cobertura midiática mundial e, também, a gerar co- mentários e tensionamentos entre atores sociais midiatizados, que em suas redes passaram a reelaborar os sentidos sobre o fato. Interessante inclusive que a imagem de Daqneesh foi atre- lada à de Aylan Kurdi, mas a guerra da Síria, em si, só foi um pano de fundo, isto é, não se transformou em uma pauta de grande visibilidade. Já a imagem da criança e de seu rosto foi amplamente abordada. sociais e meios massivos. Em nossa ótica há um imbricamento complexo. Não se trata de excluir um dispositivo midiático ou outro, nem de considerar que há so- breposições, mas sim que ativistas internalizaram lógicas de negociação típicas da midiatização e a partir delas passam a produzir discursos e movimentos nas redes, como atividades paralelas de poder que independem dos meios, mas que envolvem as táticas de contato já didatizadas. Inclusive tais táticas alcançam os meios, como no caso dos capacetes brancos na Síria.

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