Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Ana Paula da Rosa 172 das imagens não dá conta de “administrar” o sentido do reconhecimento, ainda mais se pensarmos que o próprio ato de pro- duzir a imagem já é um movimento de observação de segundo grau (VERÓN, 2013, p. 403), que, portanto, mobiliza gramáticas de reconhecimento. Desta forma, pensar a circulação é se voltar para uma teia complexa que ultrapassa o produto que circula, a imagem representacional em si, mas que envolve o sentido atribuído à imagem, aos conflitos nas interações. Assim, pode- mos considerar que pesquisar a comunicação, hoje, passa por investigar a circulação como um processo de fluxos contínuos, de agenciamentos tentativos e de contra-agenciamentos (ROSA, 2020b). Isto posto, o foco deste texto está em compreender de que forma a “aprendizagem” de lógicas de midiatização afeta a circulação de sentidos sobre conflitos, em especial a circulação de rostos de crianças. Nosso caso de investigação é formado por um conjunto de imagens em que crianças tiveram seus rostos divulgados em contraposição a um conjunto de rostos negados, portanto, tidos como não pregnantes. Neste sentido, a provocação que aqui levantamos de modo exploratório se divide em dois eixos: 1) como as lógicas de midiatização afetam a exibição de rostos infantis como símbolos de conflitos? E 2) como a atribuição de valor nas interações, portanto, a circulação demanda novas táticas para constituir uma condição de visibilidade? 2. O caso das imagens e os rostos A configuração do caso de investigação deste trabalho se articula com a proposta de um caso midiatizado, isto porque a natureza do que se observa, embora inserido em mídias, não se resume ao que ocorre neste espaço, mas volta-se para interações e desdobramentos, como os que Carlón (2017) investiga quanto a um dispositivo analítico3. Os observáveis aqui expostos 3 Neste sentido a pesquisa aqui proposta dialoga com o trabalho que vem sendo desenvolvido por Carlón sobre a circulação entre sistemas e emmovimentos as- cendentes e descendentes. A diferença central está no fato da autonomização de sujeitos que negociam com o espaço midiático hegemônico, mas que não neces- sariamente o pretendem. Em debate no Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização (2020), Carlón questionou a respeito da relação entre redes

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