Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Midiatização: o que se diz e o que se pensa 21 pelo modo como circula ou pelas suas causas e consequências. Através da circulação como capítulo da lógica dos meios, parece estar programada a repetição ou a reiteração que consagra pro- gramas midiáticos, mas a midiatização, enquanto circulação da própria experiência, pode surgir sempre nova e imprevista. Portanto, a midiatização não se refere ao mundo tec- nológico disponível à circulação transmissiva; ao contrário, vai além e, apesar dos meios, instaura novos e outros processos interacionais que reinventam o mundo e as relações humanas, tornando evidente que não é consequência da circulação da comunicação transmissiva. Ao contrário, à medida que se mediati- za, a comunicação se altera, transforma-se e se faz nova, embora circulante. Ou seja, a midiatização enquanto consequência dos meios comunicativos vai além deles e da própria comunicação. Nesse percurso, observam-se interfaces com teorias que privile- giam procedimentos lógico-dedutivos configurados em distintas áreas do conhecimento. Essas teorias são possivelmente totali- zantes e aqueles procedimentos tendem a explicar ou prever os processos sociais e, como consequência, o próprio alcance da midiatização. Para tanto, transformam processos em fluxo, em hábitos de ação, sentir e pensar. Em suas interfaces, o conheci- mento é desafiado, pois, antes que hábito, a midiatização é circulante e estrutura-se, na medida em que é estruturante e exi- ge que a consideremos nas semioses dos seus processos (Jairo Ferreira O ). u seja, longe de constituir uma estratégia metodológica, a epistemologia da midiatização deve estar atenta não ao flu- xo dos meios técnicos, mas ao modo como a técnica se dispersa e invade o cotidiano social, atravessando corpos que se deixam infiltrar por próteses cirúrgicas, mas também aprendem a de- fender-se, fazendo com que a tecnologia e suas estratégias pas- sem a ser vetores críticos de uma ação que responde ao desafio da técnica. Essa ação prevê a possibilidade de uso da técnica e seu domínio, mas, como consequência, a midiatização está mais voltada ao desenvolvimento do uso da técnica como invenção de outros modos de vida do que repetição de protocolos estabeleci- dos como rotinas de uso. Com a midiatização, somos convidados a conviver com a técnica tirando, dessa convivência, a possibilidade de aprender a conviver com ela e apesar dela: cria-se nova

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