Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Lucrécia D’Alessio Ferrara 20 passíveis de demarcação cronológica como antes, durante e depois. Ao contrário, o acontecimento não admite cronologias, porque é indeterminado nas suas causas e imprevisível nas suas consequências; portanto, o acontecimento é tão adequado à midiatização quanto se afasta do espetacular evento previsível nas suas consequências e, sobretudo, nas suas causas. Observa-se que aquela midiatização que surge como experiência de viver entre meios técnicos exige um conhecimento capaz de adaptar- -se à incerteza do indeterminado, sem tempo ou lugar fixos. Porém e liderado pela midiatização, o exercício social exige a capacidade de resolver problemas, embora nada apre- sente como método seguro para prefigurá-la nos seus possíveis desenvolvimentos. Nesse sentido, uma epistemologia da comunicação atenta ao exercício da mediatização não confunde co- municação com programas de ação, mesmo que sejam éticos e desejáveis enquanto performances morais ou políticas, claramente demarcadas. A midiatização dessas performances vai muito além das atuações já consagradas pela circulação da co- municação midiática, como aquela voltada para o consumo e liderada por estratégias persuasivas publicitárias, apoiadas em preferências, desejos ou pulsões psicológicas, previstas e expli- cadas pela psicanálise (José Luiz Aidar), ou pela noticiabilidade, mais ou menos favorável ao impulso, que faz da notícia um jogo de interesses em divulgação e, em alguns casos, em circulação. Mais do que nunca, a midiatização exige a crítica de táticas ou estratégias programadas ou explicativas do próprio conheci- mento (Ana Paula da Rosa; Pedro Gilberto Gomes). Ou seja, enquanto possível epistemologia da comunicação, a midiatização se apresenta como crítica da própria comuni- cologia que se apoia em programas teóricos ou políticos, ou seja, a midiatização de processos sociais encontra-se na imponderabilidade das suas emergências e a nada obedece; porém, aderen- te à lógica dos meios, a midiatização observa a circulação e essa característica é responsável pela constituição da opinião pública e natureza do consumo, ambas lideradas pela transmissão, mais como propagação de interesses do que como desenvolvimento de modos de pensar. A circulação como propagação é prevista pela lógica dos meios, mas essa lógica se altera na dinâmica da própria opinião pública e, portanto, não pode ser determinada

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