Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

A construção comunicacional da realidade 31 que a sociedade precisaria aprender a decifrar, a interpretar, a ler os textos sagrados, porque eram esses que, na época, contro- lavam ou assumiam a prioridade social das próprias sociedades. Então, nós temos aqui uma sociedade em que o valor básico era como as coisas eram traduzidas para as pessoas, como os tex- tos sagrados eram traduzidos para as pessoas, e a função agora, então, dos tradutores, dos hermeneutas, daqueles que tinham o trabalho de reproduzir os textos, foi e tornou-se o aspecto principal dessa mesma sociedade. Eu diria que se existe uma pergunta principal que se fazia nesta época, era: o que significa isso? Sendo que isso remete, claro, naturalmente, à questão da própria tradução ou na própria legibilidade dos textos de época. Isso foi mudando, e no século XVI tivemos a grande virada, que foi a proposição cartesiana de divisão do ser em duas dimensões: um ser pensante e um ser extenso. Isso significava então toda uma revolução do pensamento que agora caminharia por dois lados que de alguma maneira se oporiam nesse proces- so como um todo. Mas, ao mesmo tempo, é uma sociedade que cria não apenas essa divisão, mas também a revolução tecnológica, uma revolução política e uma evolução social. Tecnológi- ca porque significou a introdução da tipografia, que mudou um pouco a maneira como as pessoas passam a se relacionar com seus mundos. A tipografia veio trazer a reprodução dos livros e do material de leitura como um todo, não apenas religioso, mas também político, cultural, ideológico, enfim. E iria formatar também as mentes à medida que ela iria, digamos assim, reestrutu- rar a maneira como as pessoas olhavam o mundo e os próprios textos. Significa, com isso, que aí haveria uma mudança básica na própria sociedade. O que temos nesse momento, depois dessa passagem, é uma outra transformação, que introduziu nesse momento uma nova sensibilidade. Essa nova sensibilidade foi caracterizada por Espinoza, por Leibniz, e marcou em seu tempo e provocou também uma ruptura com o pensamento cartesiano da época, porque introduzia também conceitos que estavam fora do mo- delo de pensamento cartesiano básico. Mas a mudança princi- pal não foi aí, a mudança principal ocorreu com a presença do filósofo Nietzsche, que trouxe para essas sociedades não apenas uma crítica à própria sociedade, aquilo que ele chamava de de-

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